Tesis
O trágico como condição do humano
Autor
Silva, Francisco da Cunha
Institución
Resumen
Tese (doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Filosofia e Ciências Humanas. Doutorado Interdisciplinar em Ciências Humanas. Como se explica que um fenômeno histórico singular como a tragédia, concebida de forma original pelos gregos ao final de século VI a.C., com o mérito de abrir um novo espaço no domínio da experiência humana, possa ter sobrevivido por quase três mil anos? Após grandes eventos e rupturas históricas - tais como a longa Idade Média, o Renascimento, o Romantismo, o Iluminismo, as Revoluções Científica e Industrial, as duas Guerras Mundiais... - será ainda possível vincular a tragédia ática com a crescente vulnerabilidade da condição humana no mundo contemporâneo? Será possível a convivência do trágico dentro da configuração cristã do Ocidente? Essas e tantas outras questões são analisadas no concerto desta tese. Dentre os temas privilegiados, destaca-se uma abordagem superficial da trajetória da espécie humana desde os primórdios das primeiras civilizações sedentárias, há cerca de dez mil e quinhentos anos, na tentativa de resgatar indícios do processo de formação da civilização ocidental e, principalmente, das raízes da tragédia grega. É o caso de algumas civilizações do Oriente (origem do culto dionisíaco), da civilização hebraica e, em especial, da Antiguidade grega, o berço da tragédia. Esta é a temática do Capítulo I. Na pesquisa sobre a genealogia da tragédia e do pensamento trágico (Capítulo II), se confere atenção especial aos mitos, deuses e heróis das epopéias homéricas, marcos referenciais da civilização grega primitiva, na qual foram geradas a política (democracia), a tragédia, a comédia, a filosofia e a própria ciência, sob diferentes inspirações e perspectivas. Na análise das semelhanças e contradições dos três grandes trágicos e algumas de suas respectivas obras - Ésquilo (com Oréstia e Prometeu Acorrentado), Sófocles (em seu Édipo Rei) e Eurípides (com Medéia) - merece especial atenção a figura paradigmática de Édipo, tanto para interpretar a essência e os elementos da arte trágica, quanto na perspectiva de uma possível permanência do pensamento trágico na linha do tempo, e na possibilidade de relação com o nosso próprio mundo, em sua reflexão sobre a arte, a filosofia e a própria vida humana. Ao final do capítulo, é feita uma breve incursão do trágico nos domínios da política, da ética e da racionalidade técnica. A abrangência e complexidade do tema que envolve o trágico como condição do humano não permite alcançar, nos limites deste estudo, toda sua extensão e profundidade. Esta reflexão é mediada por alguns pensadores (trágicos ou não), vinculados a uma visão crítica, plural e interdisciplinar; uma visão comprometida com a experiência da liberdade na existência humana.