Tesis
A criação da fauna silvestre em Santa Catarina
Autor
Souza, Isaac de
Institución
Resumen
Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Ciências Agrárias. Programa de Pós-Graduação em Agroecossistemas. O presente estudo teve por objetivo trazer reflexões sobre métodos de criação de animais silvestres, discutindo as origens dos sistemas de criação, com ênfase na lógica indígena da época do descobrimento. Buscando contrastá-la com a lógica do manejo europeu, levantando os sistemas atuais de criação e inferindo sobre as potencialidades dessa nova zootecnia. A metodologia empregada para estudar a história foi a de busca de registros antigos e relatos de viagens de naturalistas, sociólogos e antropólogos que estiveram em contato com a biodiversidade existente no novo continente e a compararam com a que existia na Europa. Para conhecer a situação atual das criações comerciais de animais silvestres no Brasil, buscou-se registros existentes no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), através da internet. Além desses registros, foram levantadas, no Brasil, os das federações de criadores da fauna canora silvestre e da Federação Sul Brasileira de Criadores de Pássaros Nativos. Também levantou-se informação nos clubes associados, entre os sócios de cada clube, interrogando-os sobre as espécies e o número de aves criadas em ambiente familiares. Em Santa Catarina, foram levantados os registros dos criadores silvestres junto ao IBAMA e, além dessa fonte, contamos principalmente com depoimentos de criadores, os quais entrevistamos em visitas feitas a 21 criatórios. Essas entrevistas foram abertas, para que o produtor contasse as suas experiências sem a interferência do entrevistador. O critério usado para as entrevistas foi a importância da contribuição do entrevistado e da representatividade do manejo que ele conduz dentro do universo da criação no Estado. Como resultados desses estudos, verificamos que a criação indígena era realizada dentro de um contexto amplo, onde a floresta era manejada de modo a permitir um aproveitamento integral da sua potencialidade alimentar, tanto para produzir alimentos e outros recursos para o homem como para os animais dos quais ele se serve. À do alto das árvores, os pássaros e os macacos aproveitavam folhas e frutos; do estrato médio, plantas e animais adaptados a esse nicho eram considerados; ao nível do solo e no subsolo, as plantas anuais, as raízes e os animais terrícolas eram também gerenciados para um aproveitamento integral. O rodízio da ocupação do solo garante a recuperação da fertilidade, melhor controle de plantas indesejáveis, das doenças e das pragas. Nesse ambiente, não era necessária a preocupação com o armazenamento de alimentos e nem com o confinamento da fauna. Esse gerenciamento caracteriza-se pelo manejo da interação dos seres vivos que, além disso, proporciona uma otimização do esforço físico do homem e favorece o bem-estar vegetal e animal. Por tudo isso, o silvestre brasileiro era alegre, saudável e comprometido com o ambiente, embora guerreiro e antropófago. O europeu da época, motivado pelo ambiente inóspito, por preceitos religiosos, por uma ambição de poder e riquezas, desenvolveu um sistema criatório que se caracterizava pela monocultura, pela criação dos animais em cativeiros, pelo armazenamento dos alimentos e pela extração dos recursos naturais sem levar em conta os danos ao ambiente ou às gerações futuras. Em conseqüência disso, os europeus da época eram estressados, anti-higiênicos e conviviam com doenças e parasitas. Com a supremacia da cultura européia sobre a indígena e o interesse do conquistador em levar principalmente as riquezas, pouco sobrou, até nossos dias, da visão de gerenciamento do agroecossistema indígena. O levantamento dos animais silvestres criados no Brasil revelou que existe uma grande diversidade de espécies criadas, porém, em cada região, a ênfase é na criação da fauna silvestre local. O levantamento da criação silvestre em SC revelou que cada criador segue a sua intuição sem considerar um gerenciamento organizado. A ideologia dos colonizadores europeus ainda está presente no confinamento dos animais, na administração de alimentos e manejo. As criações mais bem sucedidas são aquelas que se aproximaram da ideologia indígena respeitando a etologia, criando animais soltos com pouco aporte de alimentos. Porém, mesmo nesse caso, há muito empirismo. É pouco conhecido o manejo que os indígenas faziam do ambiente. Por isso, é essencial que se estabeleçam, no Estado, projetos de pesquisa e mesmo centros de pesquisa que se dediquem a estudar a aplicação dos conhecimentos indígenas na atividade agrícola como um todo. Através disso, a sociedade irá extrair proveitos não apenas de ordem agrícola como também ambientais e sociais.