Avaliação da segurança e viabilidade da eletroquimioterapia como tratamento local de neoplasias de bexiga em cães

Abstract

O tratamento local do carcinoma urotelial (CUT) canino representa um desafio na medicina veterinária, uma vez que mais de 90% desses tumores são classificados em sua forma invasiva e surgem em regiões de difícil abordagem cirúrgica. Assim, novas terapias são necessárias para um controle local efetivo dessas neoplasias. Neste estudo retrospectivo objetivou-se avaliar a segurança e viabilidade da eletroquimioterapia (EQT) como tratamento único no controle local do CUT vesical canino, e de forma secundária, determinar a eficiência da técnica sobre esses tumores. Para tanto, foram selecionados de forma retrospectiva 21 cães com o diagnóstico histopatológico de CUT tratados com EQT associada a bleomicina intravenosa, a partir dos registros clínicos do centro oncológico Vet Câncer (São Paulo, SP, Brasil). A resposta local ao tratamento foi classificada em resposta completa (RC), resposta parcial (RP), doença estável (DE) ou doença progressiva (DP). A toxicidade local e eventos adversos foram avaliados a cada retorno e graduados de acordo com a escala de toxicidade do “Veterinary Cooperative Oncology Group” (VCOG). Os dados obtidos foram analisados através do pacote estatístico SPS Statistics 25, com intervalo de confiança de 95% (P ≤ 0.05). Dados demográficos, estádio T, escore VCOG, causa do óbito e recidiva foram apresentados de forma descritiva e, quando aplicável, com média e desvio padrão. As variáveis de tempo de sobrevida e duração de resposta ao tratamento foram comparadas por testes específicos para verificar se o número de sessões, o tipo de resposta ou a ocorrência de recidiva exerceram influência nessas variáveis. 90,4% dos cães deste estudo foram classificados em estádio T2 e, na avaliação histopatológica trans-operatória, nenhum animal apresentou infiltração tumoral em camada serosa. Nenhum animal veio óbito durante a EQT ou no pós-operatório imediato. A maioria dos cães desenvolveram efeitos adversos leves (19/21), sendo classificados com escore VCOG = 1. Dois pacientes foram classificados com VCOG = 3, devido ao desenvolvimento de estenose ureteral. O número de sessões de EQT realizadas variou entre uma a três sessões, sendo a média do intervalo entre a primeira e segunda sessão de 52 dias e entre a segunda e terceira sessão de 45 dias. A resposta objetiva alcançada foi de 100% (RC - 13 cães; RP – 5 cães). A RC foi obtida na primeira sessão para a maioria dos pacientes que a alcançaram (10/13), com apenas um paciente necessitando de três sessões para a RC. O tempo médio de sobrevida (TMS) e a duração média de resposta (DMR) obtidos nesse estudo foram de 419 e 370 dias, respectivamente. A taxa de recidiva foi de 38,4% (5/13), e a ocorrência da mesma não influenciou a DMR dos pacientes (P=0,983). O TMS e a DMR não diferiram estatisticamente (P=0,208 e P=0,924, respectivamente) entre os cães de acordo com o tipo de resposta (RP ou RC). Por fim, o número de sessões também não pareceu influenciar o TMS e a DMR dos pacientes, com P<0,05 para os grupos 1S, 2S e 3S. Nesse estudo, a EQT foi bem tolerada nos cães com CUT, demonstrando ser uma técnica segura e viável, sendo os principais critérios de segurança a ausência de infiltração tumoral em serosa, avaliada através da análise histopatológica, e a monitoração constante do paciente no pós-operatório.

The local treatment of the canine urothelial carcinoma (UTC) is a challenge in the veterinary oncology field, as more than 90% of these tumors are classified in their invasive presentation and develop in locations within the bladder that are difficult to surgically approach. Thus, new therapies are necessary for an effective local control of these neoplasms. This retrospective study aimed to evaluate the safety and feasibility of electrochemotherapy (ECT) as a single treatment in the local control of vesical UTC, and secondarily, determine the efficacy of this therapy on these tumors. Therefore, 21 dogs with the histopathological diagnosis of CUT, treated with EQT with intravenous bleomycin, were retrospectively selected from the clinical records of the Vet Cancer oncology center (São Paulo, SP, Brazil). Local response to treatment was classified as complete response (CR), partial response (PR), stable (SD) or progressive disease (PD). Local toxicity and adverse events were evaluated at each follow-up and graded accordingly the Veterinary Cooperative Oncology Group (VCOG) toxicity scale. The data obtained were analyzed using the SPS Statistics 25 statistical package, with a confidence interval of 95% (P ≤ 0.05). Demographic data, T stage, VCOG score, cause of death and recurrence were presented descriptively and, when applicable, with mean and standard deviation. Variables analyzed with relation to survival time and duration of response included number of ECT sessions, type of response and developmente of recurrence. 90.4% of the dogs in this study were classified in stage T2 and, in the intraoperative histopathological evaluation, none of the animals presented tumor infiltration in the serous layer. No patient died during EQT or postoperatively. Most dogs developed mild adverse effects (19/21) and were classified with a VCOG score = 1. Two patients were classified with a VCOG = 3, due to the development of ureteral stricture. The number of EQT sessions performed ranged from one to three sessions, with the average interval between the first and second session of 52 days and between the second and third session of 45 days. The overall objective response achieved was 100% (RC - 13 dogs; PR - 5 dogs). CR was achieved in the first session for the majority of patients who achieved it (10/13), with only one patient requiring three sessions for CR. The overall median survival time (MST) and median duration of response (DOR) obtained in this study were 419 and 370 days, respectively. The recurrence rate was 38.4% (5/13), and its occurrence did not influence the DOR of patients (P=0.983). TMS and DOR did not differ statistically (P=0.208 and P=0.924, respectively) between dogs according to the type of response (PR or CR). Finally, the number of sessions also did not seem to influence the patients' MST and DOR, with P<0.05 for the 1S, 2S and 3S groups. In this study, EQT was well tolerated in dogs with CUT, demonstrating to be a safe and feasible technique, with the main safety criteria being the absence of tumor infiltration in serosa, evaluated by histopathological analysis, and constant monitoring of the patient in the postoperative period.