Tristram Shandy e as palavras em atrofia: narrador e leitor no labirinto do silêncio

Abstract

O romance de Laurence Sterne, The life and opinions of Tristram Shandy gentleman (A vida e as opiniões do cavalheiro Tristram Shandy), é analisado a partir de concepções teóricas e filosóficas sobre a narrativa e a linguagem. O estudo percorreu os pensamentos de teóricos como Blanchot, Barthes e Foucault para analisar como a estrutura dialógica do romance constrói a identidade do narrador-autor-personagem Tristram. A enunciação em primeira pessoa revela os mecanismos utilizados para a construção narrativa, e isso traz elementos de construção de cenários e identidades imaginários que envolvem diretamente o leitor. Narrar, para Tristram, é recortar e reconstruir um evento por sua percepção, mas como sabe que narra para alguém traz as figuras dos leitores para dentro da obra, pois pertencem à sua mente até mesmo quando ele pensa sobre si mesmo. Nessa relação está de fora, de modo espectral, a figuração do leitor empírico, nós, leitores reais, que somos projetados para atualizarmos os vazios e o espaço que está fora da linguagem, que está fora das palavras impressas, proporcionando uma experiência literária, que nos desperta a consciência para nosso próprio ato de leitura. Esta tese, portanto, estuda as diferentes figurações do leitor na obra e os consequentes efeitos estéticos que reverberam na estrutura em espiral da narrativa shandiana.

Life and opinions of Tristram Shandy gentleman, a novel by Laurence Sterne, is analyzed from theoretical and philosophical perspectives about narrative and language. The study is based on the thoughts of intellectuals such as Blanchot, Barthes and Foucault to analyze how the dialogical structure of the novel builds the narrator-author-character Tristram. The first person enunciation reveals the mechanisms of the narrative construction, and this brings elements of the sceneries and imaginary identities construction that directly enrolls the readership. For Tristram, to narrate is to cut e reconstruct an event by some perception, but as he knows he narrates to someone he brings the figurations of readership inside the work, as they belong to his mind even when he thinks about himself. In that relation is off, in a spectral manner, the figuration of the empirical reader, we, the real readers who are designated to update the blanks and the space out of the language, out of the printed words, affording a literary experience, which arouse our conscious about our own act of reading. This thesis, therefore, study the different figurations of the readership in the novel and the consequent aesthetic effects that reverberate in the spiral structure of the Shandean narrative.