| dc.description.abstract | Introdução: Práticas meditativas têm evidências promotoras de bem-estar, mas pouco acessíveis às populações vulnerabilizadas. Objetivo: Analisar os efeitos do Treinamento Cognitivo de Compaixão (CBCT®) sobre emoções, (auto)cuidado e situações de estresse entre pessoas em situação de vulnerabilidade social. Método: Estudo misto, tipo transformativo sequencial, com mesmo peso QUAL→QUAN, realizado, no período de outubro/2018 a janeiro/2022, em Parelheiros, São Paulo – SP, área de atuação de duas Organizações da Sociedade Civil (OSC). Na abordagem qualitativa, desenvolveu-se a pesquisa-ação-participante (n=41) mediante grupos focais, entrevistas individuais, rodas de conversa e observação participante segundo o modelo de Pesquisa Participante Baseada na Comunidade (PPBC®) e a metodologia Plano de Trabalho e Avaliação. Para análise desses dados, utilizou-se a análise de conteúdo temática com recursos do software WebQDA®. Na abordagem quantitativa, estudo clínico randômico controlado com 65 pessoas participantes distribuídas aleatoriedade em controle (n=31) e intervenção (n=34). O grupo controle participou das atividades regulares das OSC e o grupo intervenção participou do CBCT®, programa de meditação para o cultivo da compaixão, durante nove semanas e com duração de 90 minutos. As variáveis de desfecho foram autocompaixão, estresse percebido, afetos positivos e afetos negativos, medidas em três tempos, com ambos os grupos. A coleta de dados ocorreu mediante questionário sociodemográfico autoaplicado e escalas validadas (Autocompaixão, PANAS-X e Estresse percebido). Variáveis complementares foram coletadas de relatórios das OSC para medir o impacto da intervenção. Para análise quantitativa, ANOVA fatorial mista considerou um fator dentre-participantes (tempo) e dois fatores entre-participantes (local e grupo), com nível de significância de 5% (valor de p <0,05). Os aspectos éticos da pesquisa envolvendo seres humanos foram respeitados. Resultados: Os participantes têm idade média de 37 anos, com predominância do sexo feminino (88%), solteiras (51%) e pessoas negras (43%). A análise qualitativa apontou que a meditação em compaixão representa prática para o autoconhecimento e o autocuidado, além de permitir ao praticante um olhar compassivo para sua comunidade. Antes do CBCT®, observou-se que a vulnerabilidade social pode potencializar o baixo letramento emocional. Após o curso, a consciência dos estados mentais e as práticas de autocuidado e (auto)compaixão produziram bem-estar e resiliência, ao mesmo tempo que impulsionaram o empoderamento, o engajamento social, a consciência de contextos sociais opressores e a busca pela justiça social. A análise quantitativa mostrou aumento significativo de autocompaixão no grupo de intervenção (p = 0,003; ηp2 = 0,37); redução do estresse percebido nos grupos intervenção e controle (p = 0,013; ηp2 = 0,08); redução dos afetos negativos no grupo de intervenção (p = 0,005; ηp2 = 0,10), aumento dos afetos positivos nos dois grupos entre T1 e T2 e redução entre T2 e T3 (p < 001; ηp2 = 0,45). A intervenção beneficiou 11.390 pessoas diretamente. Conclusão: O CBCT® teve efeito positivo sobre o bem-estar individual e na dimensão coletiva de pessoas em situação de vulnerabilidade social, sugerindo que a metodologia crítico-reflexiva potencializa o engajamento comunitário para a promoção do letramento emocional e a valorização da equidade social. | |
