Tese de doutorado
Microcefalia e Zika vírus na Paraíba: perfil epidemiológico, gestacional e achados oculares
Fecha
2020-12-18Autor
Costa, Cristiane Bezerra Da Cruz [UNIFESP]
Institución
Resumen
Introduction: Until September 2015, an increase of infants born with microcephaly led the Ministry of Health of Brazil to confirm the association between microcephaly and congenital Zika virus (ZIKV) infection. In January 2016, the first ocular findings in infants with microcephaly born during the ZIKV outbreak were confirmed. The purpose of this study was to identify the epidemiological, gestational profile and ocular findings in infants with microcephaly associated with congenital ZIKV infection in the state of Paraíba. Methods: Medical records of 56 infants with microcephaly associated with congenital ZIKV infection were evaluated. Patients were classified as “Z”, ‘PZ” and “SZ” according whether or not to laboratory tests for ZIKV and other infectious diseases were performed, their results and clinical findings highly suggestive of congenital ZIKV infection syndrome. Patients underwent to an ophthalmological examination that consisted of ectoscopy, anterior biomicroscopy and dilated indirect binocular ophthalmoscopy. Mothers were assessed for pregnancy and epidemiological information was collected. Results: Forty-two patients (75.0%) were from João Pessoa and the metropolitan region and 14 (25.0%) from other cities in Paraíba. Forty-seven patients (83.9%) from the urban area and 9 (16.1%) from the rural area. Fifty-two (92.9%) mothers underwent to prenatal care and 39 (69.6%) reported symptoms, with 31 (79.5%) of these in the first trimester. Of the 56 infants, 12 (21.4%) were classified as “Z”, 15 (26.8%) as “PZ” and 29 (51.8%) as “SZ”. Ocular findings were present in 24 (42.9%) infants, being bilateral in 21 (87.5%). Such findings consisted of retinal changes (gross pigmentation, chorioretinal macular atrophy) and / or anomalies of the optic nerve (hypoplasia, atrophy / pallor and / or increased excavation). On the patients with ocular findings, 7 (58.33%) belonged to the “Z” group, 5 (33.33%) to the “PZ” and 12 (41.38%) to the “SZ”. Discussion: The higher incidence of cases in the capital and metropolitan region, as well as in the urban area, can be explained by better notification due to more efficient epidemiological surveillance in these places, among other factors. The laboratory particularities of ZIKV infection and the difficulty in the availability of tests contributed to the non-laboratory confirmation of cases, despite the typical clinical picture. The patients' mothers were greatly affected, as symptomatic pregnant women tested for various infectious agents, except ZIKV, by serological tests unavailable or insufficiently available. The symptoms of mothers in the first trimester of pregnancy confirmed the greater involvement of the disease in infants, confirming the ease in the progress of the virus towards the fetus in this trimester. Regarding ocular findings, it was revealed that patients “Z”, “PZ” and “SZ" had similar and consistent findings with literature publications, regardless of serological confirmation. Conclusion: Most patients were from João Pessoa and metropolitan region. Most mothers, according to their symptoms, were infected in the first trimester of pregnancy and there was a deficiency related to public health in diagnosing them and newborns. Ocular findings that may cause severe low visual acuity were found in considerable frequency and severity in the study, consisting of retinal and optic nerve changes. Introdução: Até setembro de 2015, um aumento de lactentes nascidos com microcefalia levou o Ministério da Saúde do Brasil à confirmação da associação entre microcefalia e infecção congênita pelo Zika vírus (ZIKV). Em janeiro de 2016, confirmaram-se os primeiros achados oculares em lactentes com microcefalia nascidos durante o surto do ZIKV. O objetivo deste estudo foi identificar o perfil epidemiológico, gestacional e os achados oculares em lactentes com microcefalia associada a infecção congênita pelo ZIKV no estado da Paraíba. Métodos: Foram avaliados prontuários de 56 lactentes com microcefalia associada à infecção congênita pelo ZIKV. Os pacientes foram classificados como “Z”, ‘PZ” e “SZ” de acordo com a realização ou não de exames laboratoriais para ZIKV e outras doenças infecciosas, seus resultados e achados clínicos altamente sugestivos de síndrome de infecção congênita pelo ZIKV. Os pacientes foram submetidos a exame oftalmológico que consistiu em ectoscopia, biomicroscopia anterior e oftalmoscopia binocular indireta dilatada. As mães foram avaliadas quanto a gestação e informações epidemiológicas foram coletadas. Resultados: Quarenta e dois pacientes (75,0%) eram de João Pessoa e região metropolitana e 14 (25,0%) de outras cidades da Paraíba. Quarenta e sete pacientes (83,9%) da área urbana e 9 (16,1%) da área rural. Cinquenta e duas (92,9%) mães realizaram acompanhamento pré-natal e 39 (69,6%) relataram sintomas, sendo 31(79,5%) dessas no primeiro trimestre. Dos 56 lactentes, 12 (21,4%) classificaram-se como “Z”, 15 (26,8%) como “PZ” e 29 (51,8%) como “SZ”. Os achados oculares estavam presentes em 24 (42,9%) lactentes sendo bilaterais em 21 (87,5%). Tais achados consistiram em alterações retinianas (pigmentação grosseira, atrofia macular coriorretiniana) e/ou anomalias do nervo óptico (hipoplasia, atrofia/palidez e/ou aumento da escavação). Dos pacientes com achados oculares, 7 (58,33%) pertenciam ao grupo “Z”, 5 (33,33%) ao “PZ” e 12 (41,38%) ao “SZ”. Discussão: A maior incidência de casos em capital e região metropolitana, bem como em área urbana pode ser explicada por uma melhor notificação devido a uma vigilância epidemiológica mais eficiente nesses locais, entre outros fatores. As particularidades laboratoriais da infecção pelo ZIKV e a dificuldade na disponibilidade de exames contribuíram para a não confirmação laboratorial de casos, apesar do quadro clínico típico. As mães dos pacientes foram grandemente afetadas, como grávidas sintomáticas testadas para vários agentes infecciosos, exceto ZIKV, por testes sorológicos indisponíveis ou insuficientemente disponíveis. A sintomatologia das mães no primeiro trimestre gestacional confirmou o maior acometimento da doença dos lactentes, ratificando a facilidade no progresso do vírus em direção ao feto nesse trimestre. Com relação aos achados oculares, revelou-se que os pacientes “Z”, “PZ” e “SZ" tinham achados semelhantes e consistentes com publicações da literatura, independente da confirmação sorológica. Conclusão: A maioria dos pacientes era de João Pessoa e região metropolitana. A maior parte das mães, de acordo com a sintomatologia, foram infectadas no primeiro trimestre da gestação e houve deficiência relacionada à saúde pública no diagnóstico das mesmas e dos recém-nascidos. Achados oculares que podem causam baixa acuidade visual severa foram encontrados em considerável frequência e gravidade no estudo, consistindo em alterações retinianas e do nervo óptico.