Fatores sociais na produção do sofrimento psíquico: uma revisão narrativa da literatura

Abstract

Introduction: Human life is socially provided in all its dimensions, including health. Understanding the social determinants of health, therefore, does not consist in understanding only that health depends on access to human objects, but what possibilities for human fulfillment depend on the relations of production in each social formation. Bringing this concept to the field of psychiatric diagnosis, it is possible to see that psychopathological or diagnostic variables are secondary to the outcome of the rehabilitative process, while social and situational variables have a comparatively more important weight. From this, there is an interest in the problematization of the relationship between psychiatric diagnosis and psychological distress, based on the social determinants of health-disease. Objective: Identify and systematize recent scientific productions that problematize social factors in the production of psychic suffering and understand which and how social factors have been identified in these productions and reflected through psychiatric diagnosis. Method: This is a narrative review through searches for articles indexed in the CAPES and SciELO portal, in which the terms: "race" OR "social inequality" OR "gender" AND "mental health" OR "psychiatric diagnosis" were used. Results and Discussion: The prevalence of some social factors in the production of psychological distress was noted, such as raciality, gender, income and psychiatric diagnosis. The division by thematic categories was necessary. Issues such as structural and institutional racism were the most present in the findings, followed by gender roles played in society and the issue of income, both delimited by the correlation of intersectionality with race. Final Considerations: It was found that issues such as raciality, gender and income have great weight in determining how a person falls ill and who will be recognized in their illness in society, thus, social production and its determinants in the health-disease process are powerful in explaining such issues. From this, it was realized that the psychiatric diagnosis is insufficient to cover the complexity of the human being and its social issues. It is necessary to analyze the context and social production in which the subject is inserted and not delimit an individual reason for the psychiatric diagnosis, as this fact ends up reinforcing and justifying social exclusion.

Introdução: A vida humana é determinada socialmente em todas as suas dimensões, inclusive a da saúde. Compreender a determinação social da saúde, portanto, não consiste em compreender apenas que a saúde depende do acesso aos objetos humanos, mas que as possibilidades de realização do humano dependem das relações de produção estabelecidas em cada formação social. Trazendo esse conceito para o campo do diagnóstico psiquiátrico é possivel perceber que as variáveis psicopatológicas ou diagnósticas são secundárias para o resultado do processo reabilitativo, enquanto as variáveis sociais e situacionais têm um peso comparavelmente mais importante. A partir disso, surge o interesse acerca da problematização das relações entre o diagnóstico psiquiátrico e o sofrimento psíquico tomando como base os determinantes sociais de saúde-doença. Objetivo: Identificar e sistematizar produções científicas recentes que problematizam os fatores sociais na produção do sofrimento psíquico e compreender quais e como os fatores sociais vêm sendo identificados nessas produções e refletidos através do diagnóstico psiquiátrico. Métodos: Trata-se de uma revisão narrativa da literatura através de buscas por artigos indexados no portal CAPES e SciELO, nos quais foram empregados os termos: "raça" OR "desigualdade social" OR "gênero" AND "saúde mental" OR "diagnóstico psiquiátrico". Resultados e Discussões: Notou-se a prevalência de alguns fatores sociais na produção do sofrimento psíquico, tais como racialidade, gênero, renda e diagnóstico psiquiátrico. Fez-se necessária a divisão por categorias temáticas. Questões como racismo estrutural e institucional foram as mais presentes nos achados, seguidas dos papéis de gênero desempenhados na sociedade e a problemática da renda, ambos delimitados pela correlação da interseccionalidade com a raça. Considerações finais: Foi constatado que as questões como racialidade, gênero e renda têm grande peso na determinação de como a pessoa adoece e quem vai ser reconhecido em seu adoecimento na sociedade, sendo assim, a produção social e seus determinantes no processo de saúde-doença potentes em explicitar tais questões. A partir disso, percebeu-se que o diagnóstico psiquiátrico é insuficiente para abarcar a complexidade do ser humano e suas questões sociais. É necessário analisar o contexto e a produção social na qual o sujeito está inserido e não delimitar uma razão individual ao diagnóstico psiquiátrico, pois tal feito acaba reforçando e justificando a exclusão social.