Trabalho de Conclusão de Curso
Puberdade precoce central idiopática (PPCI) em meninas: aspectos clínicos e demográficos relacionados ao grupo racial à adesão ao tratamento/
Fecha
2014-12-17Autor
Maia, Nara de Andrade
Institución
Resumen
Identifica-se tendência mundial de aparecimento mais precoce dos caracteres puberais. A idade da
menarca, evento marcante no desenvolvimento sexual feminino, sofre influência de hereditariedade,
fatores ambientais e socioeconômicos, grupo racial, Índice de Massa Corpórea (IMC), características
geográficas e nutricionais. Estudos identificaram que na Bahia, em meninas com diagnóstico de
puberdade precoce, o tempo entre o aparecimento dos sinais clínicos e a procura por assistência
médica é muito longo. Objetivo: Avaliar as manifestações clínicas de Puberdade Precoce Central
Idiopática (PPCI) em meninas segundo o grupo racial e a influência de aspectos socioeconômicos e
culturais na adesão ao tratamento. Metologia: Estudo de coorte retrospectivo longitudinal, em que
foram avaliados pacientes do sexo feminino com diagnóstico de PPCI (início da puberdade em idade
inferior a 8 anos), admitidas no Programa Estadual de Medicamentos de Alto Custo (PEMAC) da
Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (SESAB), correspondente aos anos de 2011 e 2012. Os
dados foram coletados retrospectivamente de 179 prontuários de pacientes que atenderam aos
critérios de inclusão. Foram avaliadas as seguintes variáveis contínuas: idade de início da puberdade
e das suas manifestações clínicas (telarca, pubarca e menarca) e avaliação antropométrica (peso,
altura e índice de massa corporal); e categóricas: história materna de puberdade precoce, grupo
racial, renda familiar, escolaridade materna e adesão ao tratamento. O banco de dados e os testes
estatísticos foram realizados pelo programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS
Chicago – IL, versão 10.0, 1998). Resultados: Predomínio do grupo racial não branco (n=134,
75,7%), procedência equivalente da capital (n=90, 50,3%), quanto do interior (n=89, 49,7%). Vinte e
nove pacientes (16,2%) referiram puberdade precoce familial, principalmente em não brancas (n=23,
18%). A menarca materna (n=169) ocorreu, em média, aos 12,1 ± 1,5 anos. Globalmente, a média de
idade de início da puberdade foi de 6,7 ± 1,4 anos, tendo como principal sinal a telarca; pubarca aos
7,0 ± 1,4 anos e a menarca aos 8,1 ± 1,2 anos. Na consulta que antecedeu o início do tratamento as
crianças apresentavam idade de 8,4 ± 1,0 anos, peso (escore z) de 3,1 ± 2,5 DP, estatura de 2,2 ± 1,3
DP (-2,1 – 5,9), IMC de 18,5 ± 3,3 kg/m² e idade óssea 10,7 ± 1,2 anos. O tempo transcorrido entre o
aparecimento dos sinais da puberdade e o início do tratamento foi de 1,7 ± 1,1 ano. Já o avanço de
idade óssea foi de 2,3 ± 1,0 anos. Foi observada uma distribuição equivalente entre as faixas
salariais, variando de 86 a 88% a adesão. Meninas que apresentavam menor escolaridade materna
aderiram 100% ao tratamento e aquelas cujas mães tinham maior nível educacional, a não adesão ao
tratamento correspondeu a 12%. Tratamento mensal quanto o trimestral apresentaram semelhante
adesão, em torno de 80%, e meninas provenientes da capital apresentaram maior adesão, 87%, em
detrimento daquelas procedentes do interior (62%). Discussão: Características clínicas e
demográficas das pacientes foram semelhantes a outros estudos, independente do grupo racial. A
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adesão ao tratamento foi considerada elevada (83%). Na avaliação da escolaridade materna,
observou-se que 68% da população estudada, independente do grupo racial, apresenta bom nível de
escolaridade, não refletindo a escolaridade média da população baiana e indica que o alerta quanto à
questão da puberdade precoce está diretamente relacionada com o nível intelectual das famílias.
Identificou-se adesão de 100% quando as mães pertenciam aos níveis de escolaridade mais baixos,
pois costumam apresentar nível econômico mais baixo e necessitam do Sistema Único de Saúde
(SUS) para garantir sua assistência. Quando os níveis educacionais são mais elevados, possuem
maior poder aquisitivo, preferindo o atendimento privado. Meninas provenientes da capital
apresentaram maior adesão devido à facilidade de acesso ao serviço, em detrimento daquelas
procedentes do interior que apresentam maior dificuldade de acesso a Salvador. Adesão foi similar
nos tratados mensal e trimestralmente. Conclusão: O estudo mostrou predomínio do grupo racial
não branco, frequência elevada de formas familiais, telarca e pubarca ligeiramente mais precoces no
grupo racial não branco, tempo decorrido entre o aparecimento dos caracteres sexuais secundários e
o início de tratamento frenador da puberdade são longo, maior avanço de idade óssea no grupo racial
não branco. A adesão ao tratamento no SUS independe do grupo racial, do tipo de medicação
utilizada e das distintas faixas salariais, mas é maior nas famílias com menor escolaridade e em
pacientes oriundas da capital do estado.