dc.description.abstract | Introdução: O Toxocara canis é um parasito helminto cosmopolita de cães que pode
infectar os seres humanos provocando a síndrome da Larva Migrans Visceral (LMV). Os
sinais clínicos da LMV são muito inespecíficos e seu diagnóstico é realizado através da
detecção da IgG anti-T. canis por ELISA, utilizando antígeno excretório/secretório das
larvas de T. canis (TcESLA). Objetivos: Investigar possíveis associações entre a infecção
por T. canis com eosinofilia, IgE total e IgE específica contra aeroalérgenos, teste de
punctura cutâneo e asma. Objetivou-se ainda, investigar os fatores de risco associados á
aquisição desta infecção. Métodos: Os pais ou responsáveis das 1.445 crianças do estudo
responderam a um questionário ISAAC fase II adaptado para o português, sobre o histórico
de sibilo nos últimos 12 meses das crianças. Em seguida estas foram submetidas ao teste de
punctura cutâneo (TPC), coleta de sangue para contagem de células periféricas, cultivo
para detecção de citocinas e determinação sorológica da IgE específica contra
aeroalérgenos, pelo teste Unicap, IgE total determinada por ELISA e detecção de
anticorpos IgG anti-T. canis por ELISA, utilizando TcESLA e soros pré-absorvido com
antígenos de Ascaris lumbricoides. Na análise estatística estimou-se Odds Ratio (OR) e
Intervalo de Confiança a 95% (IC 95%) na análise univariada e multivariada com
regressão logística e análise politômica ajustada para sexo, idade, escolaridade materna,
asma dos pais, mofo, esgotamento sanitário e infecções por A. lumbricoides e Trichuris
trichiura. Resultados: 53,7% das crianças eram do sexo masculino, 40,5% tinham idade
entre seis e sete anos, 48,3% possuíam mães com segundo grau incompleto e em 70% das
casas inspecionadas havia mofo nas paredes. Foi detectada infecção de 14,9% para A.
lumbricoides e 13,8% para T. trichiura. A prevalência da infecção pelo T. canis foi de
48,4%; 13,4% das crianças tinham pais alérgicos e 22,4% das crianças forma classificadas
como asmáticas. Eosinofilia maior que 4% ocorreu em 74,2% e maior que 10% em 25,4%
das crianças; IgE total acima do ponto de corte de 0,2 mg/ml ocorreu em 59,6%, e IgE
específica para pelo menos um alérgeno de quatro investigados, nos pontos de cortes de
≥0,35 e ≥0,70 foi de 48,5% e 36,8%, respectivamente. Teste cutâneo positivo para pelo
menos um dos sete alérgenos testados foi observado em 30,4% das crianças. Os fatores de
risco para infecção por T. canis determinados neste estudo foram idade, baixa escolaridade
materna, pavimentação da rua e contato com cão e/ou gato. A infecção por T. canis foi
positivamente associada com eosinofilia tanto à 4% como à 10%, com IgE específica para
aeroalérgenos ≥0,35 e ≥0,70, aumento de IL-10 e negativamente associada ao TPC. Não
foi observada associação desta infecção e asma atópica e não-atópica. Conclusão: A
soroprevalência da infecção pelo T. canis é alta em nossa população. A associação da
infecção e o contato com gato é sugestivo que o TcESLA pode reagir cruzadamente com
antígenos de T. cati. A relação entre baixa escolaridade materna com maior
soroprevalência de T. canis suporta o caráter sócio-econômico desta patologia. Embora a
infecção por T. canis seja um fator de risco para eosinofilia, IgE total e IgE específica para
aeroalérgenos a infecção está associada negativamente a hipersensibilidade cutânea
imediata e, possivelmente, pode impedir a degranulação de mastócitos seja por competição
da IgE anti-T.canis com a IgE anti-alérgenos na ligação aos receptores de IgE destas
células, ou seja pelo aumento da produção de IL-10 mostrado neste estudo. Isto pode
explicar também ausência de associação com asma, ambas, atópica e não atópica. | |