Dissertação
Percursos de resistência e aprendizagem nos cortejos de Maracatu
Fecha
2013-11-26Autor
Conrado, Margarete de Souza
Institución
Resumen
Esta tese se propõe à compreensão dos percursos de vida como relações de tensão que
se dão no cenário interpretativo dos cortejos de Maracatu Nação em Pernambuco,
considerando esse espaço como uma complexa rede geradora de processos formativos
éticos, estéticos e educativos construídos a partir da convivência comunitária. O
maracatu nação é uma manifestação cultural que retrata as antigas Coroações de Reis do
Congo. A composição do objeto de estudo incorre sobre as narrativas simbólicas de
ancestralidade africana evidenciadas nos cortejos de “tradição” do maracatu a partir da
personagem da Dama do Paço e do elemento simbólico da Calunga - boneca negra que
representa a ancestralidade. Nessa perspectiva, procuro abrir a concepção de Calunga,
considerando-a como o próprio corpo-cortejo do maracatu, um corpo político-social, o
qual não existe sem a força simbólica deste elemento. O entendimento de educação se
insere na concepção de pensamento-ação entrelaçado a esses cenários pedagógicos
desses atores sociais enfatizando, nesse processo, suas visões de mundo e suas
experiências de enfrentamentos junto aos trabalhos de organização para saída dos
cortejos a cada ano no carnaval pernambucano, constituindo a complexidade do que
denomino sistema formativo corpo calungueiro. A problemática do estudo se inscreve
na busca dos fios que tecem o corpo calungueiro do maracatu, articulando linguagem,
imaginário e contexto, caracterizando um encontro entre sistemas culturais em processo
contínuo de aprendizagem. Como pressuposto entendo que ocorre uma interalimentação
entre esses sistemas que possibilita a permanência desta manifestação na
contemporaneidade. Para tanto, me utilizo da pesquisa de inspiração etnográfica
circunscrita pelos recursos teóricos da antropologia e da sociologia de Laplantine,
Maffesoli e Geertz, além, das teorias sobre corpo, arte, cultura e educação que tecem
aproximações com Paulo Freire, Brandão e Edgar Morin. Foram, ainda, utilizados os
estudos sobre ancestralidade africana de Santos, Oliveira, Sodré e Luz, e sobre os
princípios da dança africana, apontados por Asante. A relevância do estudo está na
compreensão do corpo calungueiro do maracatu como uma Escola de Vida e
comunidade que opera conhecimentos e revigora, no cortejo, a luta de significados.