dc.description.abstract | Esta tese tem como objetivo descrever a importância do universo cultural e linguístico na construção da identidade, linguagem e constituição dos sujeitos surdos. Especificamente,
estudar aspectos da identidade do surdo em contextos oralistas e bilíngues; analisar as
relações entre as visões a família e dos professores da língua de sinais e da língua oral na constituição da identidade do surdo; abordar e descrever a visão que os pais e professores têm sobre a surdez no processo sob o qual o surdo constrói, sua identidade. Como metodologia construiu-se um percurso interdisciplinar de investigação nas áreas de Sociologia,Antropologia, Comunicação, Linguística, Educação, Fonoaudiologia e Psicologia. Na abordagem qualitativa adotou-se a história de vida, como procedimento investigativo, a qual foi configurada como uma narração autobiográfica, uma vez que é a própria personagem que
a constrói estimulada, influenciada ou orientada pelo pesquisador. Fez-se, portanto a opção pela pesquisa qualitativa como eixo metodológico, em representações sociais. Foram entrevistados 10 surdos e seus familiares, sendo cinco matriculados em escola regular e cinco
matriculados em escola especial para surdos e seus familiares e ou responsáveis. Também,
submeteram-se às entrevistas 12 professores, sendo seis professores da escola só para surdo e seis professores da escola regular. Foi realizado em dois tipos de escola, uma de ensino regular, o outro ensino especial só para surdos. Os resultados estão a sugerir que a postura
adquirida pelos “Outros” – representados pelos familiares e a escola que, na verdade,
circundam a vida do surdo, parece ser o fator que contribui para definir a postura adquirida pelos sujeitos surdos, vindo a construir a sua identidade. Cumpre acrescentar que o silêncio
imposto à maioria dos sujeitos surdos foi, menos, conseqüência da falta de identificação ou de tratamento, e mais fruto das práticas de normalização e de ouvintização presentes na
escola regular e na sociedade em geral. Esses alunos focalizados na pesquisa enfrentam o isolamento e o distanciamento de seus semelhantes, principalmente quando os pais são ouvintes. Nesta pesquisa, em virtude dos surdos serem “distribuídos” em dois tipos diferentes de escola, mesmo que ambos apresentem currículos diversos, em cada escola enfrentam
grandes restrições para estabelecer trocas lingüísticas e culturais com outros surdos e
ouvintes. O compartilhar vivências e experiências comuns/diferentes com outros surdos lhes ajudaria a construir uma imagem positiva sobre si e ainda contribuiria para se organizarem,se reconhecerem como identidades surdas, podendo assim, ocupar espaço na escola e na sociedade. Como conclusão, o estudo sugere que o surdo só conseguirá fazer parte do mundo
ouvinte, estar “incluído”, não apenas no sentido de ocupar o mesmo espaço físico, quando ele for parte de outro grupo, o grupo surdo. O diálogo silencioso em que o surdo convive com sua família deixa-o uma frustração interior muito grande que, muitas vezes, ele não consegue
superar. Recomenda-se ouvir os usuários do sistema educacional para garantir propostas
curriculares capazes de atender, realmente, as necessidades de seus alunos. Considerando que há muito, ainda, a conhecer sobre o processo educacional dos surdos, o estudo apresentou alguns subsídios sobre as contribuições advindas da concepção socio-antropológica da surdez
e dos estudos bilíngües, no delineamento de caminhos mais ajustados às necessidades dos
surdos, valorizando a participação dos mesmos na construção do seu próprio projeto
educacional. | |