Dissertação
Contato improvisação e AIDS: dança enquanto poder-corpo e saber-poder
Fecha
2013-01-15Autor
Araújo, Eline Gomes de
Araújo, Eline Gomes de
Institución
Resumen
O contexto no qual um corpo social adoecido pela materialização da Aids nos corpos
individuais se constrói está continuamente em trocas com o meio no qual a dança também
ocorre. Como uma forma de dança contemporânea, o contato improvisação está em diálogo
com diversas instâncias de produção em dança, e pode ser compreendido como um campo
potencial de produção de saber-poder específico desta dança, e deste modo, entendido
enquanto caminho para um empoderamento através de sua própria forma de ocorrência. As
noções de poder e corpo de Michel Foucault, assim como das imbricações entre poder e saber,
são tomados nesta dissertação para apresentar uma forma de olhar para as relações que
acontecem da dança contato improvisação como relações de poder (FOUCAULT, 1988). Para
tanto, sua historicidade é apresentada em processos contaminatórios (BRITTO, 2008) entre
Novack (1990), Banes (1999) e Foucault (1979,1988) e discursos sobre esta forma de dança,
produzidos por Steve Paxton (1997, 2008) estão postos em diálogo com conceitos que
envolvem o modo de entender o corpo e sua relação com o meio, quais sejam, estados do
corpo (DAMÁSIO, 2000), corpomídia (KATZ e GREINER), movimento e pré-movimento
(GODARD, 2003), o conceito de improvisação (MARTINS, 1999) e corpo responsivo
(NOVACK, 1990). Traçando aproximações com o campo da saúde, as similitudes e oposições
entre os conceitos de risco e vulnerabilidade (AYRES, 2003, 2006, 2008), pensadas por
analogia na dança de contato, deflagram o entendimento de que o saber-se vulnerável no
instante da dança pode prover possibilidades singulares para rearranjos no corpo que dança no
caminho de um auto-empoderamento. O corpo vulnerável em sua transitoriedade engendra
potenciais reorganizações no corpo na direção de superar fragilidades, quando articula de
maneira perspicaz saber e poder. Enquanto relações de poder, as relações abrigadas no
ambiente da dança contato improvisação são consideradas hierárquicas, ainda que
minimamente, e por isso é que podem desencadear deslocamentos de status nas relações entre
os sujeitos na dança e talvez em contextos nos quais corpos com e sem aids possam demolir
paredes invisíveis de guetos reais.