doctoralThesis
Planejando uma aula de música : processos imaginativos em ação
Registro en:
VALÉRIO, Tatiana Alves de Melo. Planejando uma aula de música: processos imaginativos em ação. 2019. Tese (Doutorado em Psicologia Cognitiva) - Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2019.
Autor
VALÉRIO, Tatiana Alves de Melo
Institución
Resumen
Ao experienciar o mundo, o fazemos de forma panorâmica, isto é, experienciamos totalidades. Nesse encontro, planejamos desde as mais simples e mundanas ações às mais complexas. Nessa dinâmica, a imaginação desempenha um papel central, embora os estudos, comumente, foquem em seus resultados, e não em seus processos. Numa direção oposta, a Psicologia Cultural, compreendendo a imaginação como uma função mental superior, tem feito um esforço para trazê-la ao centro das investigações da psicologia humana. Nesse esteio, nossa tese buscou compreender como os processos imaginativos ocorrem em uma atividade de planejar, em dupla, uma ação futura (uma aula de música), a partir de sua natureza panorâmica. Especificamente, investigamos: a) a atuação de bordas psicológicas, a partir da proposição de dimensões analíticas (temporal; relacional; internalização-externalização; contextual e material) e b) buscamos identificar o sistema de regulação semiótica atuante nessa dinâmica. Filiamo-nos à Psicologia Cultural Semiótica (PCS), cujo pressuposto axiomático é a ideia de interdependência entre os seres humanos e o ambiente. Utilizamos conceitos fundantes da PCS, além da teoria das bordas, teoria dos objetos, uso de recursos materiais e dialogicidade. Os participantes, Maria Flor e Lenine, são estudantes de uma licenciatura em música, e formam uma dupla. Nossa proposta de análise focalizou nos processos de criação e cruzamento de bordas psicológicas, a fim de capturar as mudanças qualitativas que ocorreram na zona fronteiriça, além das relações sistêmicas que ocorrem entre as partes do fenômeno e entre suas partes e o todo, considerando, principalmente, as condições contextuais. Exploramos a dinâmica de construção da distinção adicionada de valor (Gegenstand, antecipação, resistência e direcionalidade), que nos auxiliou a compreender tanto como os processos imaginativos podem ser deflagrados quanto a regulação semiótica atuante em tais processos. Os resultados mostraram que, no tocante às bordas psicológicas, o seu processo de criação e cruzamento semiótico ocorre de forma integrativa, dinâmica e espontânea. No tocante à regulação semiótica, observamos que certos signos reguladores atuaram, principalmente, quando focalizamos a dimensão relacional. Um outro signo identificado, nomeado signo de dependência, atuou ao longo de toda experiência investigada. Foi essa atuação potente do signo que nos fez identificar e nomear o processo de rotação. Tal processo está ligado à dinâmica de resistência e direcionalidade do objeto (Gegenstand) e fortalece a atuação do signo de dependência, fazendo com que os participantes circulem (processo de rotação) em torno dele, ressaltando a característica oscilatória (ora se planeja conforme a regulação do signo dependência, ora numa direção oposta) de rotação na dinâmica de imaginar ações futuras. A dialogicidade abordada em nossa tese desvelou que planejar uma ação futura em dupla implica experienciar tensões e ambivalências e, progressiva e dialeticamente, encontrar uma forma de consenso – aspecto tão necessário nos espaços educativos para o reconhecimento e valorização da diversidade de ideias. Observamos, também, o que chamamos de modos diversos de planejar a ação futura. Por fim, o desenvolvimento dos processos imaginativos ocorre pela regulação semiótica, condições contextuais implicadas, movência semiótica entre dimensões e construção de significados, que ocorrem entre as bordas, num tempo irreversível. In experiencing the world, we do it in a panoramic way, which means that we experience totalities. Under such circumstances, we plan the most simple and mundane actions as well as the most complex ones. In this scenario, imagination plays a central role, even if studies usually address its outcome, not its processes. In the opposite direction, Cultural Psychology, in understanding imagination as a higher mental function, has been trying to place it at the core of the research into human psychology. From that angle, our thesis sought to understand how imaginative processes occur in a situation of two people planning a future action (a music lesson), observing their panoramic nature. We specifically investigated: a) the role of psychological boundaries, based on the proposition of analytical dimensions (temporal, relational, internalization-externalization, contextual and material) and b) we sought to identify the semiotic regulation system operating in this situation. We are bound to Semiotic Cultural Psychology (PCS), whose axiomatic presupposition is the idea of interdependence between human beings and the environment. We used PCS’s founding concepts, as well as theory of borders, theory of objects, use of material resources and dialogicity. The participants, Maria Flor and Lenine, are music undergraduates, and were paired off. Our analysis focused on the creation processes and on the crossing of psychological borders, in order to capture qualitative changes occurring around those boundaries, in addition to the systemic relations between the phenomenon’s parts and between those parts and the whole of it, mainly taking into consideration contextual circumstances. We explored the value added distinction (resistance and directionality) dynamics, which helped us understand the occurrence of imaginative processes and the active semiotic regulation. The results showed that when it comes to the psychological borders, the creation process and semiotic crossing occur in an integrative, dynamic and spontaneous way. Regarding semiotic regulation, we observed that certain regulatory signs came up mainly when we addressed the relational dimension. Another identified sign, named sign of dependence, came up throughout the whole experience. It was its powerful presence that had us identify and name the rotation process. This process is linked to the object’s resistance and directionality dynamics (Gegenstand) and builds up the actions of the sign of dependence, causing the participants to orbit it (rotation process), emphasizing the oscillatory rotation feature (sometimes the planning goes according to the regulation by the sign of dependence, sometimes it goes in an opposite direction) existent in the dynamics of imagining future actions. The dialogicity discussed in our thesis revealed that two people planning a future action involves experiencing tension and ambivalence and, progressively and dialectically, coming to some sort of consensus - a much needed aspect in educational spaces for the acknowledgement and appreciation of the diversity of ideas. We also see what we call diverse ways of planning future actions. Finally, the development of imaginative processes occurs through semiotic regulation, contextual conditions involved, semiotic movement between dimensions and the construction of meanings, which occur inbetween the boundaries, in an irreversible time.