masterThesis
Quando a ideia era uma só : reflexões praxeológicas sobre formas de vida em disputa a partir do Movimento Ocupe Estelita
Registro en:
PETRUCZOK, Milton Ivan. Quando a ideia era uma só: reflexões praxeológicas sobre formas de vida em disputa a partir do Movimento Ocupe Estelita. 2019. Dissertação (Mestrado em Sociologia) – Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2019.
Autor
PETRUCZOK, Milton Ivan
Institución
Resumen
No outono de 2014, um antigo conjunto logístico-ferroviário abandonado no coração do Recife, o Cais José Estelita, foi ocupado por integrantes de um grupo chamado Direitos Urbanos (DU) para proteger seus armazéns de demolição iminente para construção do Projeto Novo Recife, um empreendimento de alto padrão composto por doze torres de uso misto. A estratégia foi bem sucedida em proteger aquele patrimônio histórico, e fez circular o debate sobre o direito à cidade e as relações entre Estado e empreiteiras para além dos nichos aonde já vinham ganhando visibilidade desde Junho de 2013. Assim, o Movimento Ocupe Estelita (MOE) emergiu como um coletivo autônomo, criativo e com capacidade notável de mobilização, declarando-se independente do DU pouco depois. Neste trabalho, percebemos que essa clivagem apontava um desejo de afirmação da parcela mais jovem de ocupantes, que reivindicavam a identidade porque acreditavam haver encontrado no Cais as pistas para a reinvenção de suas formas de vida, e portanto, de uma maneira própria de fazer política. Perguntamos-nos, a partir do estudo das trajetórias de vida de sete integrantes do movimento utilizando o marco teórico do habitus (BOURDIEU: 2013),se o MOE pode ser compreendido como a atualização de uma diversidade de disposições solidárias e subversivas incorporadas pelos ocupantes ao longo de seus respectivos processos de socialização e reclassificação. Somando-nos à interpretação de Judith Butler (2018) sobre o conceito arendtiano de espaço de aparecimento, acreditamos que uma aliança centralizada no terreno e composta de contribuições materiais e simbólicas permitiu manter o local sob posse dos ocupantes, onde um quadro de profissionais consolidados, inseridos em uma diversidade de campos e instituições, respaldava a fração mais jovem da ocupação, marcada pela contribuição do corpo, o elemento fundador da estratégia ocupante. Certas homologias entre as trajetórias dos entrevistados, na maioria marcadas por entre-lugares, sugerem um reconhecimento mútuo entre aqueles que se situavam na transição entre a vida escolar e a vida profissional, estimulado pela convivência intensiva enfrentada no terreno: uma collusio em meio à illusio (BOURDIEU, 2010: 43), a partir de cuja análise fazemos uma problematização sociológica do espaço de aparecimento, assim como da abordagem bourdieusiana sobre a eficácia dos atos ilocucionários performativos. FACEPE In the fall of 2014, an abandoned railroad complex in the heart of Recife, named Cais José Estelita, was occupied by members of a group called Direitos Urbanos (DU) to protect its warehouses from an imminent demolition in order to build Projeto Novo Recife, a high- profile development composed by twelve mixed-use skyscrappers. The strategy was successful in protecting the local historical heritage, and in giving prominence to the right to the city debate and the relationship between state and building industry contractors beyond the spheres where it had been gaining visibility since the june 2013 protests. Therefore, Movimento Ocupe Estelita (MOE) emerged as an autonomous and creative collective, with a remarkable capacity of mobilization, declaring itself independent from DU a few months after. In this research, we perceive that this cleavage pointed towards an affirmation will from the youngest share of occupants, which claimed that identity because they believed to have found, in the Cais, the clues to a reinvention of their life forms, and hence, a way of its own for making politics. So we ask ourselves, through a study of the life trajectories of seven members of the movement under the habitus framework (BOURDIEU: 2013), if MOE may be comprehended as an actualization of a diversity of supportive and subversive dispositions, incorporated by the occupants over their respective processes of socialization and reclassification. Joining Judith Butler’s (2018) interpretation of the arendtian concept of space of apparition, we believe that an alliance centered in the terrain and composed of material and symbolic contributions, allowed the movement to maintain the local under the manifestors domain, where a staff of consolidated professionals inserted on a diversity of fields and institutions backed up the youngest share of the occupants, marked by the contribution of their own bodies, the founding element of the occupy strategy.Certain homologies found between the trajectories of the interviewed subjects, mostly marked by social interspaces, suggest a mutual recognition between those whose trajectories stood in-between the scholar and professional life, stimulated by the intense convivial faced on the terrain: a collusio amidst illusio (BOURDIEU, 2010: 43), which we analyze aiming a a sociological problematization of the space of apparition concept, as well as the bourdieusian approach towards the performative illocutionary acts’ effectiveness.