masterThesis
Produção jornalística sobre mulheres negras e pobres que usam drogas ilícitas em Recife/PE : esse corpo de lama que tu vê
Autor
SOUZA, Adelle Conceição do Nascimento
Institución
Resumen
SOUZA, Adelle Conceição do Nascimento, também é conhecido(a) em citações bibliográficas por: NASCIMENTO, Adelle Conceição do O objetivo deste trabalho foi analisar repertórios sobre mulheres negras e pobres que usam drogas ilícitas, produzidos e veiculados em notícias jornalísticas. Essa análise está pautada em pressupostos do feminismo decolonial, feminismo negro, antiproibicionismo e o construcionismo em psicologia social. Para tanto, foi realizado um vasto levantamento e selecionadas nove notícias do jornal Diário de Pernambuco, as quais tratam sobre as “mulheres-caranguejo”, assim nomeadas mulheres negras e pobres que usam drogas ilícitas, principalmente crack, e que se prostituem no Bairro de Santo Amaro, Recife/PE, publicada entre agosto de 2014 e novembro de 2017. No processo analítico, de orientação socioconstrucionista, consideramos os repertórios que se relacionam às mulheres, às drogas e ao contexto (território, prostituição e relação com os homens). Nesse processo, identificamos que esses textos jornalísticos produzem uma série de imagens e enunciados que acionam uma rede complexa de repertórios que incluem: 1) a estética hegemonicamente racista, que associam essas mulheres à lixo, sujeira e infecções sexualmente transmissíveis, produzindo-as como uma ameaça sanitária e moral; 2) proibicionismo ou proibição as drogas, que produzem essas mulheres negras como exclusivamente dependentes de crack e destituídas de sua autonomia, além de considerar o uso de crack como inexoravelmente problemático; 3) mídia, que reproduz e reforça os mecanismos da colonialidade ao reforçar narrativas que destituem essas mulheres negras do lugar de humanas; 4) essencialização do sujeito político mulher, ao invisibilizar as especificidades dos atravessamentos de raça e gênero na vida dessas mulheres negras; 5) modelos de família ao localizarem essas mulheres sendo de famílias desestruturadas e como ameaça ao modelo de família tradicional burguesa e 6) modelos de cidade, ao produzir a necessidade de higienização da cidade, principalmente dos lugares de grande especulação pelo mercado imobiliário como é o território em que essas mulheres negras estão inseridas. The objective of this work was to analyze repertories on black and poor women who use illicit drugs, produced and transmitted in news stories. This analysis is based on assumptions of decolonial feminism, black feminism, anti-prohibitionism and constructionism in social psychology. To do so, a large survey was carried out and nine news items were selected from the Diário de Pernambuco newspaper, which deal with the "crab women", thus named black and poor women who use illegal drugs, mainly crack, and who prostitute themselves in Santo Amaro, Recife, Pernambuco, published between August 2014 and November 2017. In the analytical process, with a socio-constructivist orientation, we considered the repertoires that relate to women, drugs and their context (territory, prostitution and relationships with men). In this process, we identified that these journalistic texts produce a series of images and statements that trigger a complex network of repertoires that include: 1) the hegemonically racist aesthetics that associate these women with garbage, filth, and sexually transmitted infections, producing them as a health and moral threat; 2) prohibition or prohibitionism of drugs, which produce these black women as exclusively dependent on crack and deprived of their autonomy, besides considering the use of crack as inexorably problematic; 3) media, which reproduces and reinforces the mechanisms of coloniality by reinforcing narratives that dismiss these black women from the human place; 4) essentialization of the political female subject, by making invisible the specificities of the crossings of race and gender in the life of these black women; 5) family models in locating these women as from unstructured families and as a threat to the model of traditional bourgeois family and 6) models of the city, in producing the need to sanitize the city, especially the places of great speculation by the real estate market as is the territory where these black women are inserted.