doctoralThesis
Memória atávica: a estética da loucura em Mário Quintana
Registro en:
BARATA JÚNIOR, Carlos Roberto Rodrigues. Memória atávica: a estética da loucura em Mário Quintana. 2016. 230f. Tese (Doutorado em Estudos da Linguagem) - Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2016.
Autor
Barata Júnior, Carlos Roberto Rodrigues
Resumen
This work aims to investigate the meanings of the trope “madness” and its many
derivatives in the work of the Brazilian poet Mario Quintana (1906-1994). The Southern
poet worked for over half a century with an aesthetic unified plan, like a tapestry of
recurring images, in an attempt to question the concepts of reason and conscience. The
poem Atavismo (1977) offers itself as a central axle to our analysis. Guided by
Atavismo, this study observed the terms “madness” and “poetry” have the same genesis:
an atavistic memory. In order to do so, it was necessary to consider inferences about
atavism, a concept from Biology concerned to a special type of memory and about
memory itself. Because its redundant insistence with the adjective “atavist” as an
attribute of memory, the poet lead us to the perception that the discussion about
madness/poetry turns around a collective problem, that is a social problem in relation
with time and the values of time. The comprehension is that the terms madness/poetry
are built as an antithesis of specific social settings like political, artistic, economic and
cultural backgrounds. Trying to achieve a comprehension of such antithesis that defends
more spontaneous ways of life, his work walks towards its end analyzing the tropes and
aesthetical resources with which the poet embodied his plan: the child, the madman,
Trebizon and other attachés in the Quintanian linguistic cast. Since we have been
working with a very articulated poetics, a connected reading of the poems is desirable,
which does not mean hermetic or exclusive. However, this approach does not prevent
lay hold of other texts and explanatory elements that support this research with
theoretical, critical, aesthetic and philosophical contributions. Therefore, the intersection
of the poems with the voices of texts like Sophocles (497?-406? BC), William
Shakespeare (1560?-1616), Machado de Assis (1839-1908), Mikhail Bakhtin (1895-
1975), Henri Bergson (1859-1941), Maurice Halbwachs (1877-1945), Salvador Dalí
(1904-1989), Jacques Le Goff (1924-), Michel Foucault (1926-1984), Ecléa Bosi among
others. Such voices promote richer critical notes about a Brazilian work spread over a
lifetime in defense of a humanity beyond Cartesian logic. Este trabalho tem como objetivo investigar as acepções do termo “loucura” e de seus
numerosos derivados na obra do poeta Mario Quintana (1906-1994). Por pouco mais de
meio século, o escritor gaúcho entrelaçou insistentes imagens em um plano estético
unificado, com vistas a questionar os conceitos de razão e de consciência. O poema
Atavismo (1977) se ofereceu para servir ao mesmo tempo enquanto ponto de partida e
eixo central para nossas análises. Conduzido por Atavismo, este estudo observou que os
termos “loucura” e “poesia” têm ambos a mesma gênese: uma memória atávica. Por
isso, foi preciso que considerássemos as inferências sobre o atavismo, conceito das
ciências biológicas relativo a um tipo especial de memória e, também, a memória ela
mesma. Na redundância proposital formada pelo adjetivo “atávica” e pelo substantivo
“memória”, o poeta nos induz à percepção de que a discussão sobre a loucura/poesia
orbita em torno de um problema coletivo, isto é, social, em sua relação com os tempos e
com os valores dos tempos. A compreensão assumida é a de que o(s) termo(s)
loucura/poesia se erige(m) como antítese de formas específicas das configurações
sociais vigentes, sejam elas políticas, artísticas, econômicas ou culturais. É, na busca do
entendimento dessa antítese, que apregoa formas mais espontâneas de vida que este
trabalho finaliza seus esforços, apurando as figuras e recursos estéticos com os quais o
poeta incorporou seu intento: a criança, o louco, Trebizonda e outros adidos no elenco
linguístico quintaniano. Por trabalharmos com uma poética bem articulada em si, a
leitura interligada dos poemas de Mario Quintana se sustenta por si mesma, mas não se
institui necessariamente hermética, exclusiva. Sendo esta uma pesquisa qualitativa, e
não havendo fortuna crítica que verse sobre a temática, a melhor forma de trabalho é,
antes de tudo, a leitura atenta dos poemas e a anuência de suas próprias vozes.
Entretanto, isso não impede que lancemos mão de outros textos e elementos
elucidativos que subsidiem esta pesquisa com aportes teóricos, críticos, estéticos e
filosóficos. Dessa forma, é de grande valia a intersecção dos poemas com outras vozes,
tais quais, Sófocles (497?-406? a.C.), Shakespeare (1560?-1616), Machado de Assis
(1839-1908), Mikhail Bakhtin (1895-1975), Henri Bergson (1859-1941), Maurice
Halbwachs (1877-1945), Salvador Dalí (1904-1989), Jacques Le Goff (1924-), Michel
Foucault (1926-1984), Ecléa Bosi, dentre outras. Tais vozes impulsionam apontamentos
críticos mais ricos acerca de uma obra brasileira propagada durante uma vida inteira em
defesa de uma humanidade além da lógica cartesiana.