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Apresentação
Autor
Zandwais, Ana
Tutikian, Jane Fraga
Resumen
A idéia de Fernando Pessoa e de Mário de Sá-Carneiro de criar a revista Orpheu deve ter surgido bastante cedo, como afirma Robert Bréchon, o autor de Fernando Pessoa, estranho estrangeiro (1996), mas parece ter tomado forma pelo outono de 1914. O primeiro nome cogitado para a revista foi “Contemporânea”, em seguida “Lusitânia”, após “Europa”. Talvez o próprio Pessoa tenha proposto o nome “ Orpheu”, reportando-nos ao mito grego. Ao som de sua música e do seu cantar, os animais amansavam-se e as copas das árvores curvavam-se em respeito. Era o que queriam os orphistas: eles tinham pretensões grandiosas quanto à sua arte.É Pessoa quem diz o que quer do Orpheu: “ Criar uma arte cosmopolita no tempo e no espaço. A nossa época é aquela em que todos os países , mais materialmente do que nunca, e pela primeira vez, intelectualmente, existem todos dentro de cada um, em que a Ásia, a América, a África e a Oceânia são a Europa, e existem todos na Europa. Basta qualquer cais europeu - mesmo aquele cais de Alcântara - para ter ali toda a terra em comprimido. E se chamo a isto europeu, e não americano, por exemplo, é que é a Europa e não a América, a fons et origo deste tipo civilizacional, a região civilizada que dá o tipo e a direção a todo o mundo.Por isso a verdadeira arte moderna tem de ser maximamente despersonalizada - acumular dentro de si todas as partes do mundo. Só assim será tipicamente moderna. Que a nossa arte seja uma onde a dolência e o misticismo asiático, o primitivismo africano, o cosmopolitismo das Américas, o exotismo ultra da Oceânia e o maquinismo decadente da Europa se fundam, se cruzem, se interseccionem. E, feita esta fusão espontaneamente, resultará uma arte-todas-as-artes, uma inspiração espontaneamente complexa... “(1915).Na verdade, o Orphismo tem a intenção de estabelecer não apenas uma contribuição literária, mas, principalmente, proceder a uma forte intervenção na história da cultura de Portugal de seu tempo e de sua posteridade. Ou seja, intervir na história através de uma estética permutacional com a própria contemporaneidade. E, de fato, foi o que fez, como demonstra este número da Revista Conexão Letras, mas o demonstra a partir de uma ótica específica: a do olhar dos estudiosos brasileiros sobre os orphistas. Única exceção, talvez, é a participação de um dos maiores professores e intelectuais portugueses da atualidade, o de Arnaldo Campos, da Universidade do Porto, mas que não foge, absolutamente, da proposta. Interessante observar que três nomes - três grandes orphistas - têm tido o foco maior da atenção dos pesquisadores brasileiros: Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro e Eduardo Guimaraens.