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O Terceiro Mundo e as Relações Internacionais: uma relação intermediada pelas categorias de subalternidade, centro-periferia e desenvolvimento
Autor
Cação Rosa, Maria Eduarda
Resumen
Ao propor uma investigação sobre a situação do Terceiro Mundo dentro de sistemas e instrumentos estabelecidos a partir da lógica ocidental, busca-se demonstrar a relação de desigualdade e a contínua hierarquização impostas ao longo da história entre o próprio Terceiro Mundo e aquele tido como superior, o Primeiro Mundo; este exercício é realizado de forma que se observa o fenômeno em diferentes contextos e são consideradas até mesmo as distintas nomenclaturas pelas quais são conhecidos os objetos deste estudo conforme o período histórico. Ao ter o Terceiro Mundo como principal objeto de análise, o que é proposto neste artigo é uma reconsideração deste termo que atualmente é considerado por muitos como inadequado; a intenção é respeitar e entender a forma como a própria população terceiromundista procura de organizar.Analisando três categorias – subalternidade, questão centro-periferia e o discurso de desenvolvimento – desde suas origens até suas aplicações no caso do Terceiro Mundo, pretende-se apontar suas semelhanças em relação às suas estratégias e consequências. Ao falar de subalternidade, é discutido o termo em Antonio Gramsci e depois em Gayatri Spivak - que contribui com reflexões sobre como dar voz ao subalterno; o Terceiro Mundo é apresentado nesta seção como objeto de estudo e as TWAIL (Third World Approaches to International Law), enquanto movimento de resistência, são questionadas sobre reforçar ou questionar a subalternidade.Dentro da questão centro-periferia, após uma introdução do conceito a partir da relação entre Teoria da Dependência e a Teoria Sistema Mundo de Wallerstein, é debatida a possibilidade de retomada da hierarquia colonial através da relação entre centro e periferia. Por fim, ao tratar da questão do desenvolvimento e seu discurso, levantava-se a hipótese de que a adoção desta lógica de desenvolvimento ocidental é prejudicial à emancipação terceiro-mundista por desconsiderar alternativas não-centradas no capitalismo; são propostas duas explicações para a adoção do discurso de desenvolvimento pelas novas nações nascidas após a descolonização do Terceiro Mundo após a Segunda Guerra Mundial. O artigo utiliza de reflexões pós-coloniais para questionar a forma através da qual são determinados os conhecimentos e as formas de vida tidas como referência. Além disso, certa ênfase é dada aos efeitos dessas três categorias na estrutura das relações internacionais: ao localizar o Terceiro Mundo dentro do sistema internacional, reconhecendo qual sua real capacidade de ação nos âmbitos políticos e econômicos globais, sugere-se apontar a resistência identificada na ascensão de grupos de estudo e correntes teóricas terceiromundistas.Percebe-se que não existe nenhuma chance de emancipação do Terceiro Mundo dentro das relações internacionais – ou em qualquer outra esfera - enquanto tudo que configura este espaço for definido a partir de outros modos de vida, conhecimentos e de uma realidade que não se aplicam ao Terceiro Mundo e que na verdade se baseiam nas experiências ocidentais e europeias. Portanto, qualquer possibilidade de emancipação terceiromundista depende da iniciativa de mudança de reação do Terceiro Mundo frente a este constrangimento sistemático; é necessário que este deixe de aceitar ser inserido nas relações internacionais conforme o Primeiro Mundo permite e cede espaço e apresente resistência e suas reivindicações na esfera internacional.