Tesis
Hipnose, complexidade e dores crônicas : um percurso teórico
Fecha
2018-12-11Registro en:
MALLMANN, João Antônio de Assis. Hipnose, complexidade e dores crônicas: um percurso teórico. 2018. 224 f. Tese (Doutorado em Psicologia Clínica e Cultura)—Universidade de Brasília, Brasília, 2018.
Autor
Mallmann, João Antônio de Assis
Institución
Resumen
Esta tese tem como objetivo a elaboração de noções teóricas complexas sobre o papel da hipnose na reconfiguração das dores crônicas. Parte-se da articulação entre a hipnose de Milton H. Erickson e a teoria da complexidade de Edgar Morin pautado por base epistemológica que possibilite apoiar a construção de um modelo teórico de potencial explicativo sobre a atuação da hipnose nos processos de dor crônica. Estima-se que 30% da população mundial sofra com dores crônicas, sendo que, especificamente no Brasil, aproximadamente 75% da procura pelo sistema de saúde está relacionada a essa demanda. A literatura especializada concebe a diversidade de tratamentos como proposta diante da complexidade e do caráter refratário da cronicidade, entretanto, a atenção à dor ainda é substancialmente pautada pelo saber biomédico e pela prescrição de medicamentos. Em grande parte, essa visão se deve ao fato de que o paradigma moderno de ciência estabeleceu dicotomias entre corpo-mente, indivíduo-social e controle-autonomia, atuando primordialmente sobre o corpo em detrimento dos processos psicológicos, de um indivíduo isolado do contexto de suas experiências sociais e culturais, numa relação baseada na lógica do controle. Compreende-se que a dor é um processo subjetivo e complexo vivido no corpo, envolvendo sensações aversivas e de sofrimento. A hipnose, como estratégia psicoterapêutica no cuidado da dor possui um papel importante no que se refere à reconfiguração dos processos de dor crônica, pois possibilita o agenciamento de processos fisiológicos, conscientes e inconscientes com potencial de mudanças clínicas ligadas à dor. Para tanto, a leitura dessa relação sob uma perspectiva complexa lança mão de categorias que permitam a inteligibilidade dos processos singulares vividos por sujeitos acometidos por dores crônicas. Essas categorias compreendidas em tetragrama, holograma e auto-eco-organização oriundas da teoria da complexidade possibilitam uma discussão dialógica que supere as dicotomias tradicionalmente estabelecidas. A discussão se baseia em dois estudos de caso clínicos, de pessoas que passaram pela terapia orientada pela abordagem de Milton H. Erickson com o foco na dor crônica. A pesquisa baseou-se numa metodologia qualitativa, em caráter construtivo-interpretativo de inspiração na Epistemologia Qualitativa. Por fim, conclui-se a discussão destacando que a proposta de tese adotada sobre a construção de noções teóricas complexas constitui não apenas uma contribuição teórica alternativa, mas atende a exigências epistemológicas, teóricas e metodológicas próprias da atuação da hipnose na reconfiguração da dor. Em decorrência disso, concebe-se que as práticas de saúde devem ter uma maior atenção à singularidade dos sujeitos, desenvolvendo metodologias e políticas públicas que se lancem sobre o cuidado da dor sem que o universalismo das macro visões teóricas apaguem a complexidade do sujeito. O resgate da dimensão de sujeito, portanto, é o elemento central do cuidado da dor e da saúde.