Tesis
Direito à memória e ancestralidade : escrevivências amefricanas de mulheres escravizadas
Fecha
2021-08-11Registro en:
SÁ, Gabriela Barreto de. Direito à memória e ancestralidade: escrevivências amefricanas de mulheres escravizadas. 2020. 152 f., il. Tese (Doutorado em Direito)—Universidade de Brasília, Brasília, 2020.
Autor
Sá, Gabriela Barreto de
Institución
Resumen
Esta tese aborda o direito à memória e ancestralidade enquanto direito fundamental capaz de
orientar ações no campo da justiça histórica relativas à escravidão negra. O trabalho deriva de
pesquisa anterior realizada com fontes primárias, ações cíveis e criminais ajuizadas no Brasil
oitocentista nas quais pessoas escravizadas demandavam o direito à liberdade. A análise dos
argumentos mobilizados naqueles casos conduziu à constatação de que, diante da presunção de
escravização imposta ao sujeito negro, a memória era a principal fonte reivindicada na busca
pelo direito à liberdade. A partir daí, o presente trabalho busca mapear a fundamentação
histórica do direito à memória e ancestralidade a partir do reconhecimento de epistemologias
ancestrais verificadas nas experiências de pessoas escravizadas. Nos últimos anos, diante da
ausência de políticas públicas voltadas à reparação do impacto da escravidão no Brasil,
iniciativas vêm sendo adotadas no sentido de romper com o epistemicídio que impede o direito
à memória dos fatos ocorridos durante a escravidão, a exemplo do Conselho Federal da Ordem
dos Advogados do Brasil (OAB), o qual criou, em 2015, a Comissão Nacional da Verdade da
Escravidão Negra com o objetivo de apurar os crimes cometidos durante este período. Em
âmbito estadual, a Comissão Estadual da Verdade da Escravidão Negra da OAB-Piauí
reconheceu, em 2017, Esperança Garcia como a primeira advogada do estado. Esperança Garcia
foi uma mulher negra escravizada que em 1770 escreveu uma petição ao Governador do Piauí
não apenas denunciando os maus-tratos que ela, seus filhos e suas companheiras sofriam, mas
também demandando o direito coletivo de garantir o batismo e a confissão das mulheres e
crianças da fazenda onde se encontrava, bem como buscava a manutenção dos laços familiares
através do direito de visitar o marido. Da análise da petição, surgiu como questão de pesquisa
verificar as confluências entre as experiências de outras mulheres escravizadas e as estratégias
agenciadas nas disputas por direitos. Diante da necessidade de politizar essas experiências
decorre a opção por realizar a análise a partir da categoria escrevivência (Conceição Evaristo).
Em reconhecimento à diáspora, a compreensão dos casos é realizada em diálogo com a
realidade amefricana (Lélia Gonzalez). Neste sentido, a tese busca humanizar a História do
Direito a partir da materialidade do direito à memória e ancestralidade através da experiência
de mulheres escravizadas frente à historicidade do direito e da cultura jurídica atlântica forjada
ao longo dos séculos de escravização.