Tesis
Tendências, implicações éticas e regulatórias da globalização de ensaios clínicos com novos medicamentos em países das Américas, Ásia, África e Europa.
Fecha
2021-07-15Registro en:
SILVA, Ricardo Eccard da. Tendências, implicações éticas e regulatórias da globalização de ensaios clínicos com novos medicamentos em países das Américas, Ásia, África e Europa. 2018. 257 f., il. Tese (Doutorado em Ciências da Saúde)—Universidade de Brasília, Brasília, 2018.
Autor
Silva, Ricardo Eccard da
Institución
Resumen
Introdução: A migração de ensaios clínicos de regiões de países ricos para regiões menos
desenvolvidas como os países de renda média baixa e renda baixa envolve benefícios, pois permite
acesso a tratamentos experimentais inovadores aos pacientes, atração de investimentos para os
centros de pesquisa e a possibilidade de harmonização de procedimentos. Por outro lado, esses
estudos têm migrado para regiões com desigualdades sociais, econômicas e de saúde expressivas,
onde há risco de violações dos direitos dos participantes. Objetivo: Analisar tendências relativas a
participação de populações vulneráveis em ensaios clínicos, aos planos de acesso pós-estudo e aos
tipos de câncer investigados nos ensaios clínicos em países das Américas, Europa, Ásia e África,
classificados pelo nível de desenvolvimento, no período de 2009 a 2017. Métodos: Estudo analítico,
retrospectivo e de coleta de dados em bases: (i) Sistema de Controle de Pesquisa Clínica (SCPC) da
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), (ii) Sistema de Produtos e Serviços sob Vigilância
Sanitária - Datavisa (Anvisa) e (iii) Plataforma Internacional de Registro de Ensaios Clínicos
(International Clinical Trials Registry Platform, ICTRP). Resultados: Nos ensaios clínicos globais,
conduzidos em diversos países, os pacientes incapazes de dar consentimento pessoalmente têm 11,4
vezes mais chances de serem pacientes vulneráveis do que pacientes que são capazes, e que
pacientes em países de renda média-alta têm 1,7 vezes mais chances de serem pacientes vulneráveis
do que pacientes de países de alta renda quando participam de ensaios clínicos globais. Entre os
países selecionados na pesquisa, o fornecimento de medicamentos pós-estudo é obrigatório apenas
na Argentina, no Brasil, no Chile, na Finlândia e no Peru. Os ensaios clínicos sem planos de acesso
pós-estudo e que envolveram populações vulneráveis foram mais concentrados em países de renda
média alta (25%) e renda média baixa (24%) em comparação aos países de renda alta (20%). Na região
da América Latina e do Caribe, as doenças negligenciadas, como a doença de Chagas e a dengue,
representaram 1% do total de estudos. Houve uma tendência de ensaios clínicos envolvendo câncer
de mama e pulmão em países com menor nível de desenvolvimento. Por outro lado, os cânceres de
colo de útero, de estômago e de fígado, apesar do impacto na saúde das populações dos países de
renda média baixa, foram pouco estudados. Conclusões: Os ensaios clínicos têm migrado para países
onde os participantes podem ter seus direitos violados. Esses participantes têm ajudado a desenvolver
os novos medicamentos, a partir de sua participação nos estudos, mas o acesso ao medicamento
experimental após o encerramento dos estudos pode não ser garantido. Isso porque apenas em poucos
países esse acesso pós-estudo é regulamentado. Isso pode ser mais grave em países com populações
vulneráveis, onde os indivíduos não conseguem proteger seus interesses e o paciente corre o risco de
sofrer danos devido a descontinuação permanente do tratamento. Os países precisam aprimorar e
fortalecer seus mecanismos de controle ético e regulatório, considerando os riscos envolvidos na
migração de ensaios clínicos.