Tesis
“Nós somos água” : cosmovisões e perspectivas políticas sobre a água a partir do diálogo com atores institucionais e da sociedade civil
Fecha
2021-06-01Registro en:
PAULA JÚNIOR, Franklin de. “Nós somos água”: cosmovisões e perspectivas políticas sobre a água a partir do diálogo com atores institucionais e da sociedade civil. 2021. 236 f., il. Dissertação (Mestrado em Direitos Humanos e Cidadania)—Universidade de Brasília, Brasília, 2021.
Autor
Paula Júnior, Franklin de
Institución
Resumen
Essa dissertação parte da premissa de que a água é elemento
essencial e indispensável à vida e que, nesta perspectiva, o direito humano à vida
pressupõe o direito humano de acesso à água (assim como pressupõe os direitos dos não
humanos de acesso à água e, ainda, a própria água como sujeito de direitos). O trabalho
objetivou compreender os sentidos e significados atribuídos à água pelos atores
institucionais e da sociedade civil e suas concepções sobre a política de águas no Brasil.
Para isso, desenvolveu um diálogo (recorrendo a entrevistas narrativas) fecundo de
subsídios (ideias, reflexões, cosmologias, vestígios, conjecturas) que nutriram ainda mais
reflexões, assim como a análise e elaboração teorética. A pesquisa proporcionou uma
análise crítica acerca da política de águas do país, identificando elementos contraditórios
que residem tanto na sua concepção como na sua implementação. Em que pese a presença
de intencionalidades inovadoras relacionadas à participação social, à gestão democrática
e à abordagem territorial sistêmica, defronta-se, por exemplo, com estruturas também
reprodutoras de vicissitudes históricas expropriadoras de sentidos outros da água que
remetem à modernidade ocidental e ao seu duplo inextrincável, a violência colonial
(reproduzida pela colonialidade que atravessa nossos dias), lastreada no pensamento
abissal, assim como na racionalidade instrumental indolente. A colonialidade é ainda
amplificada pela dimensão capitalística e financeirizada do sistema-mundo. Nesse
sentido, não é cabível conceber uma política de águas para o país como se fosse um fim
em si mesmo, dissociada da realidade histórica e social, da dimensão geopolítica
(sobretudo, porque o Brasil é uma potência hídrica mundial, alvo da cobiça internacional
imperialista e das corporações do hidronegócio) e dos desafios climáticos e ambientais
planetários. A análise das narrativas dos atores institucionais e da sociedade civil
propiciou o exercício teórico (que deve também orientar a dimensão praxiológica) de
resgate e recomposição de sentidos outros da água que extrapolam a arrogância
reducionista da coisificação, da objetificação, assim como da água considerada apenas
como recurso hídrico ou, ainda pior, como mercadoria. Neste sentido, é preciso
‘rematriar’ a sua brasilidade, forjando outras subjetividades. Isso requer outras
maquinações e outras modelagens, e pressupõe a valorização e o diálogo com as
cosmologias originárias, afro-ameríndias e extramodernas, corporificadas,
especialmente, no modo de vida dos povos indígenas, quilombolas e das comunidades
tradicionais brasileiras.