Tesis
Formação e desenvolvimento do agente socioeducativo : um processo de revisão de campos afetivo-semióticos
Fecha
2021-07-15Registro en:
CUNHA, Gleicimar Gonçalves. Formação e desenvolvimento do agente socioeducativo: um processo de revisão de campos afetivo-semióticos. 2021. xiv, 213 f., il. Tese (Doutorado em Psicologia do Desenvolvimento e Escolar)—Universidade de Brasília, Brasília, 2021.
Autor
Cunha, Gleicimar Gonçalves
Institución
Resumen
No sistema socioeducativo, todos os profissionais que lidam com adolescentes em
cumprimento de medida são concebidos como educadores sociais, em especial o
agente socioeducativo. A ele compete colaborar com a promoção da reintegração social
do adolescente, conduzindo-o ao reconhecimento do ato cometido e conhecimento dos
direitos preconizados pelo sistema. Entretanto, no Brasil, ainda predominam, sobretudo
em Unidades de Internação, práticas laborais comprometidas mais com a segurança
que com a educação e desenvolvimento do jovem. Considerando que as crenças
compartilhadas são a base do mundo subjetivo, convertendo-se em sistemas dinâmicos
que acompanham as práticas profissionais e os sentimentos experimentados na relação
com o trabalho, realizamos esta pesquisa-intervenção, sob inspiração da Psicologia
Cultural. A intervenção consistiu em um Curso de Extensão para agentes
socioeducativos, com o objetivo principal de conhecer, problematizar e transformar o
sistema de crenças e valores desses profissionais, particularmente sobre os fenômenos
que os interpelam no cotidiano do trabalho. O Curso foi realizado com oito agentes
socioeducativos de uma mesma unidade de internação do Distrito Federal e
compreendeu 20 encontros, com três horas de duração cada um, durante o período de
maio a outubro de 2019. Os indicadores empíricos foram interpretados em dois níveis
interdependentes de análise: síncrono e assíncrono à intervenção. O primeiro nível
compreendeu a transcrição do material áudio gravado, a elaboração de crônicas e a
mediação do processo grupal e buscou responder a duas perguntas: o que deve ser
trabalhado em um Curso de Formação de Agentes Socioeducativos e como esse
conteúdo deve ser abordado. O segundo nível de análise, assíncrono, consistiu em uma
apreciação qualitativa das transcrições e das crônicas, seguida de uma triangulação de
todas essas análises, com foco no reconhecimento das bases de justificação dos
campos afetivo-semióticos hipergeneralizados e posicionamentos dinâmicos de self dos
participantes. Neste nível, buscamos responder para que serve um Curso de Formação
de Agente Socioeducativo. Constatamos que processos de formação e
desenvolvimento profissional, quando voltados para a revisão das práticas laborais
(posicionamentos dinâmicos de self), impõem conhecimento e análise dos recursos
subjetivos do profissional em suas dimensões cognitiva e afetiva. Devem adotar um
modelo dialógico, que privilegie o intercâmbio comunicativo e a emergência de novos
posicionamentos de self nos participantes. Por fim, considerando as oposições, os
valores divergentes sobre os adolescentes em medida socioeducativa e a própria
atuação laboral do agente, analisamos três zonas de tensões dialógicas que
transversalizaram os encontros: punição versus socialização; virilidade versus abertura
para o diálogo e reprodução versus promoção de mudança. Concluímos que um processo de formação continuada não deve ter um formato previamente estabelecido
quanto ao que deve ser abordado. Defendemos uma proposta comprometida com a
revisão dos campos afetivo-semióticos hipergeneralizados mobilizados e construídos no
âmbito do trabalho, o que implica ouvir os profissionais, para que, com eles, a pauta do
processo seja definida. Propomos três eixos para o planejamento de processos de
formação: escuta como cuidado prévio à proposição dos conteúdos; mediação dialógica
como estratégia de condução do processo de revisão dos sistemas de crenças, valores
e posicionamentos de self e consolidação de uma postura ético-política comprometida
com o desenvolvimento pleno do adolescente em medida socioeducativa e de si próprio
como sujeito no mundo.