Tesis
Sistema de cotas sociais : a transposição da linha abissal : possibilidades e constrangimentos : construções identificacionais e representações discursivas
Fecha
2021-07-20Registro en:
ALVES, Gissele. Sistema de cotas sociais: a transposição da linha abissal: possibilidades e constrangimento : construções identificacionais e representações discursivas. 2021. 374 f., il. Tese (Doutorado em Linguística)—Universidade de Brasília, Brasília, 2021.
Autor
Alves, Gissele
Institución
Resumen
Esta tese de doutoramento foca representações discursivas e construções identificacionais
relacionadas ao sistema de cotas para ingresso nas instituições federais brasileiras. Instituída
pela Lei no 12.711/2012, a política reserva, a partir de 2016, no mínimo, 50% de suas vagas para
estudantes egressos das escolas públicas. Diante disso, a pesquisa tem como objetivo precípuo
desvelar discursos que naturalizam a desigualdade social e reforçam suas fronteiras, como
também discursos contestatórios que potencializem a transposição da linha abissal, o problema
social parcialmente discursivo de que se ocupa esta tese. Para tanto, embaso-me no referencial
teórico-metodológico dos Estudos Discursivos Críticos e dos Novos Estudos do Letramento
com base em autores como Chouliaraki e Fairclough (1999), Dias (2011, 2015), Fairclough
(1992; 2003), Resende (2009, 2019), Ramalho e Resende (2011), Rios (2009, 2010) e Street
(1995) colocados em diálogo com as Ciências Sociais Críticas, nomeadamente, com a
Sociologia da Juventude e da Educação, tecendo discussões, entre outras questões, sobre
identificação e diferenciação, desigualdade, interseccionalidade, educação, pensamento pós-
abissal de autores como Bhaskar (1986), Bourdieu (1978), Ferreira (2017), Firmino da Costa
(2012), Giddens (2000), Lahire (2001, 2004, 2006) Lopes (1996, 2002,2015), Pais (1993, 1999,
2005), Sousa Santos (2008, 2010, 2011). O trabalho pauta-se pela perspectiva da Pesquisa
Qualitativa, à luz de Cameron et al. (1992) e de Denzin e Lincoln (2006) e assume a
constituição dos corpora de duas naturezas, a saber, (i) pesquisa documental – compilação de
dados oficiais a fim de traçar um retrato das juventudes da educação superior, sob a lente da
interseccionalidade, e compor análise da conjuntura e textos midiáticos, veiculados na Internet,
que atualizam representações sobre as cotas; (ii) pesquisa etnográfica crítica e reflexiva –
realização de entrevistas “(des)centradas”, com professoras/es da UnB e de um curso de
extensão para universitárias/os cuja proposta se orienta por uma “ecologia dos saberes”” a fim
de promover práticas acadêmicas e letramentos de resistência e, assim, potencializar
percursos, projetos e a agência juvenil. Destarte, as análises desvelam o funcionamento da
linha abissal, segundo recontextualização conceitual que proponho, como poderosa perspectiva
ideológica que sustenta o “domínio do impensável”, a serviço da manutenção das restrições de
acesso, logo, do estado de coisas. Diante disso, considerando o quadro de desigualdades que
assola o país, ainda que os retratos das juventudes demonstrem que as cotas vêm
democratizando o acesso à universidade pública, é preciso discutir e promover permanência e
êxito na universidade. Para tanto, a universidade precisa ampliar o movimento necessário à
construção do “interconhecimento”, o que passa pela reconfiguração das práticas e pelo fomento
de letramentos de resistência. Permanência e êxito é uma responsabilidade a exigir que a
universidade tenha olhos e ouvidos atentos às presenças que se pronunciam no campo e as
diferenças que significam e que as cruzam, sobretudo, daquelas/es que outrora estavam no lado
de fora do campo.