Tesis
As mudanças nos modos de vida em relação ao avanço da soja na Amazônia : estudo de caso em comunidade rural, município de Santarém-PA, área de influência da BR-163
Fecha
2020-04-16Registro en:
VALADÃO, Lígia Meres. As mudanças nos modos de vida em relação ao avanço da soja na Amazônia: estudo de caso em comunidade rural, município de Santarém-PA, área de influência da BR-1632019. 199 f., il. Tese (Doutorado em Desenvolvimento Sustentável)—Universidade de Brasília, Brasília, 2019.
Autor
Valadão, Lígia Meres
Institución
Resumen
O avanço da soja na Amazônia se intensificou a partir da década de 2000. No estado do Pará, a área cultivada com soja quadruplicou entre os anos de 2012 e 2017. Associado a isso, o Pará é o estado que apresenta as maiores taxas de desmatamento no Bioma Amazônia no mesmo período. Diante da expansão da fronteira da soja no estado, o estudo focalizou a região de Santarém, um dos polos da produção sojeira no Pará. O objetivo do estudo foi analisar os modos de vida de comunidades rurais na Amazônia e como eles são afetados pelas mudanças de uso da terra associadas à entrada da soja, por meio de um estudo de caso na comunidade de Igarapé do Pimenta, área de influência da rodovia BR-163, situada no município de Santarém. Os modos de vida (do inglês, livelihoods) são os diferentes meios de ganhar a vida, as práticas cotidianas associadas ao trabalho, à vida familiar e a como essas práticas se inter-relacionam com relações sociais mais amplas. Com base no modelo conceitual dos modos de vida associados à paisagem e à resiliência social, foi elaborado um modelo que associa as diferentes trajetórias dos modos de vida à sua resiliência ou à sua fragilidade. O trabalho de campo foi feito entre os meses de agosto e outubro de 2017. Foram realizadas entrevistas gravadas, com o objetivo de obter informações sobre as características sócio-demográficas da população, o perfil de renda, as características das propriedades e das atividades produtivas, bem como as percepções de mudanças ambientais, da produção agrícola e das mudanças geradas pela chegada dos produtores de soja na região. Foram entrevistados 43 moradores (82,3% das famílias). Foi constatado que, de modo geral, os modos de vida que dependem da utilização das áreas agrícolas para fins de subsistência e comerciais são os que têm maior grau de resiliência. Modos de vida que dependem de provimentos do governo são os que apresentam maior fragilidade, pois o uso menos intensivo das áreas leva à venda dos terrenos aos sojicultores. Os modos de vida associados aos empregos não-rurais, apesar de não levarem à venda das terras aos sojicultores, usam espaços pequenos e apresentam um uso mais residencial que agrícola. Nos últimos cinco anos, um terço da comunidade passou por mudanças nos seus modos de vida. A maior parte das mudanças ocorreu entre agricultores que se tornaram dependentes de provimentos do governo. Uma pequena parte de famílias se tornou exclusivamente empregada e deixou de cultivar as suas roças. Novas famílias estabelecidas na localidade têm modos de vida associados a empregos não rurais e à agricultura de subsistência. Ao longo dos últimos cinco anos, todos os modos de vida reduziram as práticas da coleta de frutos da mata, da caça e da produção das roças (que diminuíram de tamanho e diversidade). Foi constatado, ainda, que os moradores percebem que as mudanças com a entrada da soja se relacionam com o desmatamento e a utilização de agrotóxicos. Os agrotóxicos prejudicam a saúde dos moradores e reduzem a produção das suas roças. Foram identificadas poucas estratégias de adaptação à presença da soja. Essas estratégias são associadas à adoção do uso de agrotóxicos e da horticultura orgânica. A significância do estudo está em contribuir para identificar distintas dinâmicas familiares de comunidades rurais e como elas estão sujeitas e respondem a vetores de mudança. Políticas públicas e ações de extensão podem ser formuladas de maneira mais eficaz a partir das especificidades levantadas por estudos como esse.