dc.description.abstract | Esta tese apresenta um modo de interpretar ‘políticas públicas’, que se concentra em vê-las como
fluxos multiatoriais, multidirecionais, multidimensionais, multiescalares e, sobretudo, multissensoriais.
Trata-se de um olhar que pressupõe disposição e capacidade imaginativa (para ver coisas conhecidas
sob nova luz). Pressupõe, ainda, valorizar a dimensão estética e processual das políticas públicas, em
lugar de concentrar-se em sua dimensão material – que nos leva a crer que são redutíveis ao objeto
resultante da ação de atores estatais ou de autoridades com poder decisório. Para reinterpretar políticas
públicas, porém, são necessárias novas lentes cognitivas, capazes de construir a visibilidade e a
inteligibilidade do que tem sido deixado, sistematicamente, de fora dos fluxos de políticas públicas: a
experiência. Fazemos isso por meio de um vai-e-vém teórico-metodológico experiencial: que
aproxima os estudos críticos em políticas públicas, do pragmatismo deweyano e da gestão social, em
busca de um pragmatismo crítico à brasileira; que intercala abdução, indução e dedução; que busca
aproximar, o máximo possível, o pensamento simbólico do pensamento sensível, com o intuito de
enriquecer o processo de produção de conhecimento e de reconhecer que ele é, inevitavelmente,
impregnado de valores e que se implica na experiência – por meio da escuta ativa em movimento, do
rastreamento-mapeamento de práticas e da pesquisa orgânica. Retrospectivamente, partimos de um
encantamento estético e perturbador, que fez emergir a intuição de que o movimento hip hop da
Ceilândia poderia ter algo importante a ensinar e que poderia ser reposicionado no campo de estudos
em políticas públicas. A partir disso, construímos o que uma ‘experiência pública’ pode ser e
projetamos um arcabouço analítico – construtivista em termos ontológicos, argumentativo em termos
epistemológicos, deontologicamente ancorado na gestão social, reflexivo no plano metodológico e
interpretativo no plano empírico. Por fim, utilizamos este arcabouço para reinterpretar o movimento
hip hop da Ceilândia como um produtor de argumentos e como uma experiência potencialmente
pública – uma parte essencial dos fluxos de políticas púlbicas. Concluímos que há muita coisa e muita
gente no mundo que segue invisibilizada ou marginalizado no mundo das políticas públicas e que há
muita experiência e muita expertise popular, local, situada (muitas vezes informal e improvisada)
sendo desperdiçada. Um olhar atento para experiências públicas – como é o caso do movimento hip
hop da Ceilândia – e sua relocalização no centro dos fluxos de políticas públicas têm o potencial de
gerar a força centrífuga necessária à expansão das fronteiras do campo e à inclusão de outros
elementos, outros atores e outros saberes no policy process. Apenas assim – pela experimentação
sensível de algo novo – seremos capazes de mudar de lugar, de encontrar novos equilíbrios e de
perseguir formas de desenvolvimento mais democráticas, pautadas em participação inclusiva e
irrestrita, arranjos que não assumam a democracia e a igualdade como fins, mas como processos de
experiência, como lugares-comuns de vida (DEWEY, 1998). | |
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