Tesis
Peptídeos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria paulensis : caracterização da atividade eletrofisiológica em canais iônicos dependentes de voltagem.
Registro en:
TIBERY, Diogo Vieira. Peptídeos isolados da peçonha da aranha caranguejeira Acanthoscurria paulensis : caracterização da atividade eletrofisiológica em canais iônicos dependentes de voltagem. 2020. 89 f., il. Dissertação (Mestrado em Biologia Molecular)—Universidade de Brasília, Brasília, 2020.
Autor
Tibery, Diogo Vieira
Institución
Resumen
Aranhas são artrópodes da ordem Aranae que possuem em suas peçonhas uma grande diversidade de compostos, como sais, ácidos orgânicos, enzimas, proteínas e peptídeos. Dentre esses compostos os peptídeos possuem grande interesse farmacológico devido à atividade neurotóxica por meia da ação em canais iônicos dependentes de voltagem presentes no sistema nervoso central, sistema nervoso periférico, músculo cardíaco e músculo esquelético. Da peçonha da aranha caranguejeira encontrada no território brasileiro Acanthoscurria paulensis, foram descritos aproximadamente 100 componentes. Dentre esses componentes apenas uma toxina peptídica Ap1a foi purificada e caracterizada quanto à sua atividade biológica. Neste trabalho foram purificadas cinco novas toxinas peptídicas nomeadas como Ap2, Ap3, Ap4, Ap5 e Ap6 por RP-HPLC, sequenciadas por In-souce Decay e suas sequências completadas e confirmadas pela análise no transcritoma da glândula de peçonha de A. paulensis. Os peptídeos Ap2, Ap3, Ap4, Ap5 e Ap6 possuem, respectivamente, com 42, 41, 35, 46 e 31 resíduos de aminoácidos, e, massas moleculares experimentais de 4886,3 Da, 4883,7 Da, 3870,76 Da, 5454,9 Da e 3717,9 Da, sendo que o peptídeo Ap2, apresenta a serina do C-terminal amidada. Buscas em bancos de dados públicos de sequências indicaram que peptídeos Ap2, Ap3, Ap4, Ap5 e Ap6 possuem similaridades com toxinas peptídicas que apresentam o motivo estrutural
conhecido como ICK (Inhibitory Cystine Knot) sendo possíveis moduladoras de canais iônicos. Desta forma, as toxinas isoladas neste trabalho foram submetidas a ensaios eletrofisiológicos em canais de Na+ (NaV) e de Ca2+ (CaV) dependentes de voltagem. Dentre os canais NaV1.1, NaV1.5, NaV1.7, CaV1.2, CaV2.1 e CaV2.2 testados, as toxinas Ap2, Ap3, Ap5 e Ap6,
apresentaram atividade, com inibição entre 10 e 30%, nos canais CaV2.1. Estas quatro toxinas são, portanto, caracterizadas como as primeiras ω-toxinas de aranhas caranguejeiras do gênero Acanthoscurria com atividade em canais de cálcio descritas. A toxina Ap3 inibiu em 6,6%, 4,2% e 12,05% os canais NaV1.1, Nav1.5 e Nav1.7 respectivamente. O presente trabalho contribui
para a ampliação do conhecimento a respeito dos componentes da peçonha de aranhas no Brasil, assim como para a descrição de novos compostos bioativos que podem ser utilizados como ferramentas farmacológicas para compreensão do mecanismo de funcionamento de canais iônicos e da interação com toxinas peptídicas.