Tesis
Memórias do espaço urbano nas canções de Chico Buarque de Hollanda
Fecha
2022-05-31Registro en:
CARDOSO, Maria Daíse de Oliveira. Memórias do espaço urbano nas canções de Chico Buarque de Hollanda. 2022. 235 f., il. Tese (Doutorado em Literatura) — Universidade de Brasília, Brasília, 2022.
Autor
Cardoso, Maria Daíse de Oliveira
Institución
Resumen
O compositor, cantor e escritor Chico Buarque de Hollanda ganhou notoriedade no
cenário artístico brasileiro desde o início de sua carreira, nos anos de 1960. Suas
composições passaram a ser força motriz para muitas questões sociais
representativas de uma coletividade, mesmo que tecidas com uma voz individual. As
reverberações de suas mensagens ganharam o imaginário dos seus leitores e
ouvintes, especialmente no tocante ao lirismo elaborado de suas composições. Por
meio de uma linguagem de forte acento coloquial e permeada de literariedade, ele
procurou representar em suas letras a multiplicidade de vozes e as experiências
fragmentadas do cotidiano das cidades, dos espaços urbanos e do imaginário de
muitos espaços de memórias, principalmente nos seus últimos três álbuns, que, desde
o título, remetem à espacialidade. A partir dessas observações, surgiu a seguinte
indagação: como Chico Buarque representa as memórias do espaço urbano em suas
canções, especialmente nas letras que compõem os discos As Cidades (1998),
Carioca (2006) e Caravanas (2017)? Partindo dessa problematização, o objetivo da
presente tese é investigar as estratégias literárias e os elementos memorialísticos
utilizados por Chico Buarque para representar as memórias do espaço urbano nas
obras musicais citadas. De igual modo, esta tese visa estudar as relações existentes
entre a ideia de cidade-texto e os espaços de memórias; relacionar as experiências
da urbe e a elaboração de um discurso cancional, em que reverberam vozes de
outrem. E, por fim, analisar como as questões de modernidade, do contemporâneo,
do crescimento urbano, da (in) segurança urbana e suas consequências podem
interferir na construção dos discursos memorialísticos sobre uma cidade. Em face dos
objetivos apontados, seguiu-se a metodologia de uma análise textual e transtextual
comparativa, que se fundamenta na revisão bibliográfica e no amplo material
acadêmico e jornalístico disponível sobre as obras e seu autor. Como referencial
teórico utilizou-se, a princípio, as pesquisas de Sylvia Helena Cyntrão (2014) sobre as
relações da canção com o literário e com os fenômenos relacionados ao
contemporâneo; Yi-Fu Tuan (1983), que amplia os conceitos de espaço, lugar e
espaciosidade; Milton Santos (2006), com as discussões sobre paisagem, aspectos
fixos e fluxos de um lugar; Zygmunt Bauman (1999), com os conceitos sobre medo e
consequências do urbano e outros aspectos relativos ao crescimento da cidade.
Também foram basilares para a construção das análises e compreensão das
singularidades que envolvem o lado opaco e furta-cor de uma cidade os conceitos e
pressupostos teóricos de Henri Lefebvre (2001). Ademais, foram igualmente
importantes as contribuições de Roger Chartier (1990), no que se refere ao seu
conceito de representação, e Aleida Assmann (2011), que investiga os espaços de
recordação. O corpo analítico da presente tese constituiu-se em dois blocos (o
primeiro sobre a cidade do Rio de Janeiro e o segundo sobre outros espaços), cada
um deles com quatro composições que expõem, por diferentes ângulos, como a
memória do espaço urbano encontra na letra poética seu espaço-canção. De modo
geral, percebeu-se que as canções de Chico Buarque estão fundamentadas em um
jogo dialético. Isso porque, ao mesmo tempo em que celebram a beleza da cidade e
os seus habitantes, essas obras fazem uma crítica cultural, revelando a segregação
social e os variados problemas gerados pelos processos de urbanização.