Tesis
Biodiversidade de organismos edáficos e ciclagem de nutrientes em ecossistemas naturais e plantios de eucalipto no Cerrado
Fecha
2021-08-27Registro en:
INKOTTE, Jonas. Biodiversidade de organismos edáficos e ciclagem de nutrientes em ecossistemas naturais e plantios de eucalipto no Cerrado. 2021. 117 f., il. Tese (Doutorado em Engenharia Florestal)—Universidade de Brasília, Brasília, 2021.
Autor
Inkotte, Jonas
Institución
Resumen
O entendimento do funcionamento de variáveis que influenciam a estabilidade de um ecossistema terrestre
é crucial para manejá-lo com sustentabilidade. Dentre estes processos, a ciclagem de nutrientes sustenta as
funções vitais do bioma Cerrado por meio do aporte de serapilheira e sua decomposição realizada por
organismos edáficos; entretanto, pouco se sabe a respeito da dinâmica da serapilheira e sua relação com os
atributos do solo nas áreas de Cerrado. Sendo assim, a tese tem como objetivo avançar nos estudos
referentes a ciclagem de nutrientes e atributos edáficos em áreas de cerrado sensu stricto e floresta de
eucalipto, visando investigar as relações entre a dinâmica da serapilheira, os parâmetros químicos, físicos
e biológicos do solo e sua relação com os fatores climáticos. Os estudos foram realizados na estação
experimental da UnB, Fazenda Água Limpa, localizada no Distrito Federal. Foram alocadas de forma
aleatória 12 parcelas em cada uma das três áreas de estudo, sendo a A1 composta por área de cerrado sentido
restrito preservado e A2 composta por dois plantios de Eucalipto com diferentes idades de implantação. Foi
realizada revisão sistemática dos estudos sobre aporte e decomposição de serapilheira desenvolvidos no
bioma Cerrado. Os procedimentos metodológicos em A1 envolveram a avaliação dos processos da ciclagem
de nutrientes, pelo período de dois anos, por meio da combinação de dados meteorológicos, deposição e
decomposição de serapilheira, abundância e diversidade da fauna epígeica e variáveis físicas e químicas do
solo. Em A2 avaliou-se a ciclagem de nutrientes em dois plantios de diferentes idades (8 e 5 anos de
implantação), pelo período de dois anos, com ênfase nas implicações da remoção da camada de serapilheira
depositada ao solo. Por fim, avaliou-se os impactos da mudança de uso do solo de cerrado sentido restrito
em plantios de eucalipto nas comunidades de fauna epigeica. Os dados coletados foram submetidos a
análises uni e multivariadas, paramétricas e não paramétricas. A revisão sistemática indicou grande
variação metodológica nos estudos de aporte e decomposição da serapilheira no Cerrado, com coletores e
bolsas de decomposição de diferentes dimensões, composições e tempos totais de experimento e coleta.
Para várias fitofisionomias não foram observados estudos e constatou-se carência de pesquisas de longa
data e estudos sobre a decomposição de outras frações da serapilheira que não a foliar. Os resultados obtidos
para A1 evidenciaram que a precipitação modulou a diversidade da fauna epigeica, com maiores valores na
estação chuvosa, com destaque para os grupos: Isoptera, Collembola e Formicidae. A decomposição de
folhas teve alta correlação com a abundância de fauna epigeica, enquanto os galhos apresentaram alta
correlação com a diversidade da fauna epigeica, entretanto as taxas de decomposição destas duas frações
foram semelhantes. De forma geral, a decomposição da serapilheira foi mais rápida onde a diversidade e
abundância de fauna epigeica foi maior e apresentou correlação com pH, estoque de carbono e fósforo
disponível. Houve forte influência da precipitação sazonal na comunidade da fauna epigeica, na deposição
e decomposição de serapilheira e suas relações com os parâmetros químicos do solo. Os resultados obtidos
em A2 evidenciaram que a remoção da camada de serapilheira reduziu a decomposição foliar e a
abundância dos grupos Hemíptera, Díptera e Diplopoda da fauna do solo, além de reduzir o crescimento
das árvores na área de eucalipto juvenil. A diversidade da fauna epigeica, os parâmetros de P remanescente
e umidade do solo, bem como as taxas de decomposição de galhos foram altamente correlacionados com
as parcelas que não sofreram a remoção da camada de resíduos. Houve influência da remoção da camada
de serapilheira na composição da fauna edáfica, no crescimento das árvores, na decomposição da
serapilheira, no balanço de fósforo e umidade do solo, sendo assim, a prática de remoção de resíduos pode
gerar prejuízos aos plantios e a ciclagem de nutrientes como um todo. Ao comparar os diferentes usos do
solo A1 e A2 pôde-se observar que no período de seca os grupos Collembola, Isoptera e Díptera foram mais
abundantes na área de cerrado e Formicidae mais abundante nas áreas de Eucalipto, sendo estes
responsáveis por 85% das diferenças encontradas entre os dois usos do solo. Já no período chuvoso,
Formicidae, Isoptera e Díptera foram mais abundantes em A1, enquanto Diplopoda foi mais abundante em
A2, sendo estes grupos também responsáveis por 85% da dissimilaridade entre as áreas. Observou-se que
a maioria dos grupos de fauna epigeica foram mais abundantes em A1, indicando o impacto ocasionado
pela introdução de monocultivo de espécies exóticas nas comunidades de fauna epieica do solo. Pôde-se
observar alta correlação de alguns grupos de fauna epigeica com os teores de matéria orgânica, potássio,
cálcio, fósforo e pH do solo, sendo estes considerados bons indicadores da composição destas comunidades
edáficas. Ao abordar a ciclagem de nutrientes em área de cerrado nativo e plantios de eucalipto, esta
pesquisa ressaltou a importância das propriedades edáficas e dos processos que envolvem a serapilheira na
manutenção dos serviços ecossistêmicos e as implicações das práticas de manejo e da mudança de uso do
solo na comunidade da fauna do solo.