Tesis
Biologia reprodutiva, sistema de acasalamento e seleção sexual em Antilophia galeata (Aves: Pipridae)
Fecha
2022-05-03Registro en:
KAJIKI, Lia Nahomi. Biologia reprodutiva, sistema de acasalamento e seleção sexual em Antilophia galeata (Aves: Pipridae). 2022. xii, 246 f., il. Tese (Doutorado em Ecologia) — Universidade de Brasília, Brasília, 2022.
Autor
Kajiki, Lia Nahomi
Institución
Resumen
Uma das vias de diversificação das espécies ocorre via seleção natural; porém, a
diversificação de fenótipos pode também ser movida pela variância no sucesso
reprodutivo de indivíduos. Nesse caso, pequenas diferenças comportamentais e
morfológicas podem fornecer grande vantagem reprodutiva e serem transmitidas às
futuras gerações, permitindo condições para a seleção sexual ocorrer. Em uma família de
aves neotropicais, a diversificação de caracteres ornamentais aparentemente atingiu
condições extremas. Quase todos os membros da Família Pipridae são caracterizados pelo
dimorfismo sexual acentuado, onde machos possuem ornamentos extravagantes e
elaborados displays de corte. Os machos foram liberados do cuidado parental, assim a
maioria dos piprídeos possui um sistema de acasalamento poligínico em lek. O gênero
Antilophia se destaca por ter sido considerado monogâmico, porém estudos recentes
indicam que tal proposta pode estar equivocada. Assim, este estudo pretende investigar e
confirmar o sistema de acasalamento social e genético do Soldadinho (Antilophia
galeata) (Aves: Pipridae) por meio da investigação de sua biologia reprodutiva,
comportamento territorial e relações de parentesco. Para isso, coletamos dados referentes
aos parâmetros reprodutivos e de sobrevivência dos ninhos em uma população de A.
galeata e investigamos se o cuidado é biparental. A ausência de cuidado parental por
machos é comum entre piprídeos que fazem lek, assim esperávamos encontrar padrão
semelhante em A. galeata (Capítulo 1). Investigamos o comportamento territorial de
machos por meio de uma abordagem experimental para averiguar se eles defendem
territórios individuais e fornecemos a descrição do display de corte. Esperávamos
observar machos defendendo territórios individuais com locais de nidificação, de maneira
similar ao seu congênere, A. bokermanni (Capítulo 2). Em relação ao sistema de
acasalamento, a expectativa era encontrar um padrão de intensa poliginia e poliandria, como encontrado em seu congênere. Através da análise de parentesco confirmamos o
sistema de acasalamento genético da espécie (Capítulo 3) e investigamos se
características sexuais secundárias dos machos estão sendo selecionadas pela escolha das
fêmeas (Capítulo 4). Neste capítulo, a principal previsão era que ornamentos e canto
informariam a condição de machos para fêmeas, e machos que apresentassem esses
caracteres sexuais secundários de maneira mais extravagante conseguiriam maior
paternidade de ninhadas. Nossos resultados confirmam que não há cuidado biparental na
espécie e a fêmea é responsável por todas as etapas do cuidado parental, desde construção
do ninho até sua defesa contra predadores. A taxa de predação de ninhos foi estimada em
59%, e foi causada por aves, pequenos mamíferos e primatas. Além disso, a sobrevivência
dos ninhos foi maior com a proximidade a corpos d’água e altura do solo. Também
demonstramos por meio de experimentos de territorialidade pioneiros com piprídeos que
machos de A. galeata defendem territórios individuais que contém ninhos, e o display se
resume a algumas simples posturas e vocalizações de advertência ao redor do território.
Com a análise de parentesco, confirmamos que o sucesso reprodutivo entre machos é
desigual e encontramos evidências de poliginia. Além disso, 53% das ninhadas
apresentaram paternidade múltipla, indicando que fêmeas são poliândricas. Os dados
coletados aqui sugerem que A. galeata possui um sistema de acasalamento poligínico
com evidente poliandria. Os dados não convergem para uma classificação clara do
sistema de acasalamento como um lek típico, mas sugerimos que A. galeata talvez adote
displays em leks solitários e conserve certos comportamentos atípicos para espécies que
fazem lek. Por fim, a plumagem da crista e do manto e a duração do canto são indicadores
de saúde e condição corporal de machos. Machos com penas vermelhas no manto mais
puras, pernas vermelhas da crista menos puras e cantos mais curtos estavam mais
saudáveis (menos estresse). O brilho das penas do manto apresentou correlação positiva com as reservas energéticas. Contudo, contrário às nossas predições, fêmeas preferem
machos com plumagem do manto mais fosca, menos contraste acromático e que emitem
cantos mais curtos. Por ser a única espécie de piprídeo restrita ao Cerrado, A. galeata
apresenta comportamentos únicos possivelmente resultantes de um cenário evolutivo
particular. Talvez a redução do habitat e falta de área suficiente para displays comunais
podem ter afetado o comportamento de machos, que se tornaram mais agressivos e
defendem arenas individuais.