Tesis
Educação crítica decolonial e agenciamentos : um estudo etnográfico-discursivo sobre o Programa Mulheres Inspiradoras
Fecha
2021-01-07Registro en:
QUEIROZ, Atauan Soares de. Educação crítica decolonial e agenciamentos: um estudo etnográfico-discursivo sobre o Programa Mulheres Inspiradoras. 2020. 292 f., il. Tese (Doutorado em Linguística)—Universidade de Brasília, Brasília, 2020.
Autor
Queiroz, Atauan Soares de
Institución
Resumen
Nesta tese, apresento um estudo etnográfico-discursivo sobre práticas de (micro)resistência no contexto escolar, orientado pela perspectiva crítica e decolonial. Como objeto de investigação, considero uma iniciativa particular: o Programa Mulheres Inspiradoras (PMI), um programa educacional constituído por diferentes ações, com destaque para as práticas de leitura de obras literárias de autoria de mulheres e para a produção escrita autoral. As práticas pedagógicas do PMI instauram, em certa medida, práticas discursivo-identitárias que, ao promover processos reflexivos profundos, por meio do debate sobre a valorização do legado de mulheres inspiradoras, em perspectiva interseccional, da cidadania ativa e da transformação social, possibilitam agenciamentos por parte dos/as estudantes do Ensino Médio (EM). Partindo do diálogo teórico-metodológico interdisciplinar entre a Análise de Discurso Crítica, em sua vertente relacional-dialética, e o Realismo crítico, com incursões na Pedagogia crítica e nos Estudos decoloniais, proponho um olhar discursivo-crítico e explanatório sobre o ensino e a aprendizagem da leitura e da escrita como práticas formativas agenciadoras e como práticas sociais engajadas, as quais tematizam questões discursivo-identitárias, sobretudo questões de gênero, como parte de processos e mecanismos sociais e culturais mais amplos. Ao longo do trabalho, com base nas ações do PMI, problematizo a ordem do discurso pedagógico colonial e teço reflexões sobre as potencialidades agenciadoras de uma educação crítica decolonial que contesta o sexismo e o racismo epistêmicos que estruturam saberes, currículo, políticas, práticas pedagógicas e habitus institucional das escolas ocidentalizadas. O objetivo geral foi analisar, compreender e problematizar as representações e identificações construídas discursivamente por estudantes sobre o debate sociopedagógico acerca das relações de gênero no interior da escola. A geração dos dados etnográfico-discursivos ocorreu no período de maio a dezembro do ano de 2017, em uma escola participante do Programa de Ampliação do Projeto Mulheres Inspiradoras (PAPMI), o Centro Educacional 07 de Taguatinga (CED 07), com duas docentes de Língua Portuguesa (LP) e suas respectivas turmas de EM (uma turma do segundo ano e uma turma do terceiro ano). Os dados foram gerados por meio de uma abordagem multimetodológica constituída de observações de aula, notas de campo, rodas de conversa e pesquisa documental (trinta textos autorais constantes em um diário de bordo produzido pelos/as estudantes da turma do terceiro ano). Baseando-se nas análises discursivas críticas textualmente orientadas, o estudo aponta, dentre outros achados, que (i) as práticas discursivo-identitárias do PMI ativam propriedades e poderes causais de textos e de conversações internas que concorrem para a emergência e intensificação de agenciamentos epistêmicos, políticos e identitários, intrinsecamente relacionados a processos reflexivos de decolonização de (a) saberes, pois descondicionam, desnaturalizam e desessencializam o olhar acostumado a ler conforme regimes de verdade hegemônicos; (b) poderes, uma vez que estimulam a agência engajada e a construção de comunidades de aprendizado para a convivência cidadã; (c) formas de subjetivação, porque possibilitam a reelaboração biográfica metarreflexiva e o autorreconhecimento; e (ii) as experiências formativas no PMI acionam deliberações reflexivas que colaboram para a desconstrução de discursos essencialistas de gênero, apregoadores de masculinidades e feminilidades sexistas e simplificadas, e para a construção discursiva de identificações de gênero mais plurais e inclusivas.