Tesis
Psicodinâmica no gótico contemporâneo : psicopatologias em “O Iluminado”, de Stephen King
Registro en:
PAZ, Fábio Ramos. Psicodinâmica no gótico contemporâneo: psicopatologias em “O Iluminado”, de Stephen King. 2019. 127 f. Dissertação (Mestrado em Literatura)—Universidade de Brasília, Brasília, 2019.
Autor
Paz, Fábio Ramos
Institución
Resumen
O Gótico é conhecido por explorar o medo. Caracterizada pela utilização de elementos grotescos (violência, mortes e sanguinolência), esse tipo de ficção foi “oficializada” em 1764 com a publicação de O Castelo de Otranto, de Horace Walpole. Componentes típicos do horror literário já estavam em textos de Homero e Shakespeare, como a presença de monstros e de fantasmas em A Odisseia e Macbeth, mas eles não estavam associados a um gênero específico até a segunda metade do século XVIII. Com Walpole veio uma onda de narrativas com foco no fantástico “assustador”, como obras de Mary Shelley (Frankenstein) e Bram Stoker (Drácula). Ainda que os livros do Gótico sejam vistos como um meio de fácil entretenimento, é necessário observar que o horrendo sempre lidou com as ansiedades sociais de onde era produzido e que, mesmo assim, continuou fiel ao devaneio proposto pelo horror. No século XIX, isso é perceptível nos poemas de Percy Shelley e em obras de Charles Dickens, como em Oliver Twist que, mesmo que não tenha elementos sobrenaturais, pode ser lida por um viés gótico. Com o advento do Gótico contemporâneo após a publicação de “The Uncanny”, de Sigmund Freud, os textos de horror começaram a ter grande foco em questões abordadas pela Psicanálise, como a exploração de psicopatologias e a representação de conflitos interpessoais através de figuras sobrenaturais. Diversos autores acrescentaram às suas narrativas esse escopo da psicologia humana, algo que se tornou comum aos escritores dos séculos XX e XXI. Em A Casa dos Pesadelos, Marcos DeBrito apresenta uma narrativa passível de interpretação por preceitos psicanalíticos sobre o consciente e o inconsciente humano; Já no âmbito da Psicopatologia, é possível ler O Exorcista, de William Peter Blatty, como uma obra que explora a psicose e é capaz de discutir acerca dos sintomas da esquizofrenia, enquanto Carrie, de Stephen King, é capaz de levantar discussões acerca do que é a ansiedade e a depressão. Quanto à transmissão de psicopatologias, a leitura de Objetos Cortantes, de Gillian Flynn, é interessante para que a transmissão transgeracional seja compreendida por quem procura, na Literatura, elementos psicodinâmicos. Em O Iluminado, Stephen King apresenta ao leitor a família Torrance, composta por Jack (pai/esposo), Wendy (mãe/esposa) e Danny (filho). A análise dessa obra permite ao estudante de Psicanálise perceber como as personagens da ficção não estão apenas sendo atormentados por entidades desconhecidas, mas, na verdade, estão experienciando sintomas próprios de transtornos que vão de neuroses até psicoses como a esquizofrenia. No Gótico contemporâneo, a ideia de “assombração” está conectada à transmissão transgeracional, na qual há um “tabu” que será transmitido entre os membros de uma mesma família e que, por não ser discutido e trabalhado, resultará em momentos de infortúnio e destruição das relações interpessoais. Na obra de King, as psicopatologias da família Torrance estão ligadas à ideia do tabu e de como ele pode ser prejudicial à saúde mental do ser humano, o que é percebido pelo leitor a partir de como é a relação dos Torrance ao decorrer do texto. A análise de O Iluminado prova que o Gótico contemporâneo possui uma parceria com os estudos da Psicanálise e da Psicopatologia, o que propõe uma visão mais complexa desse gênero.