Tesis
Ações letradas como construção social : práticas de letramentos de pessoas com deficiência visual de uma biblioteca pública
Fecha
2022-01-11Registro en:
FLORINDO, Girlane Maria Ferreira. Ações letradas como construção social: práticas de letramentos de pessoas com deficiência visual de uma biblioteca pública. 2021. 378 f., il. Tese (Doutorado em Linguística)—Universidade de Brasília, Brasília, 2021.
Autor
Florindo, Girlane Maria Ferreira
Institución
Resumen
Este estudo surgiu de uma inquietação acerca da presença ou ausência de letramentos nas vidas de
pessoas com deficiência visual adquirida, uma vez que estas são basilares nas práticas sociais
contemporâneas, bem como da possibilidade emancipatória expressada pelas pessoas com cegueira
em termos de agenciação (SOUSA SANTOS, 2000; MAGALHÃES, 2013) em contextos de assimetrias
impostas pela hegemonia visiocêntrica. Conforme uma investigação etnográfico-discursiva crítica, o
campo de pesquisa considerado é uma biblioteca específica: a Biblioteca Braille Dorina Nowill (BBDN)
localizada em Taguatinga-DF, voltada ao público com deficiência visual (DV), que desenvolve
atividades e eventos de letramentos, sobretudo os literários. As ações letradas desenvolvidas pela
BBDN contribuem para o alceamento das pessoas com DV adquirida, ao possibilitarem a expressão, a
autoria, a leitura e a participação ativa delas, numa perspectiva da valorização das experiências, da
dororidade (PIEDADE, 2017) compartilhada e das potencialidades das vidas com cegueira ou baixa
visão adquirida na idade adulta, cuja identidade fraturada, necessita ser (re)inventada. Com base nas
práticas de letramentos dos atores com DV adquirida, discuto ao longo da tese, a hegemonia da ordem
visiocêntrica do discurso (LIMA, MAGALHÃES, 2018) e das representações que subjugam as vidas
das pessoas com DV e dou relevo à centralidade da experiência da cegueira adquirida e das vozes de
mulheres e homens com DV (MARTINS, 2006, 2010) adquirida, contrastando -as às relações com os
familiares e com os mediadores do letramento e às questões daí implicadas, como as identidades dos
parentes com DV. A configuração das identidades pessoais e das relações sociais da pessoa com
cegueira adquirida é atravessada por um contexto de resistência (que se faz agenciação) e superação
de desigualdades, e regulação-subalternização alcançando, por meio de atividades de letramento e do
protagonismo, o alceamento e a reinvenção da emancipação, tendo a (re)escrita de si, apoiada por
uma comunidade de leitura e escrita, o papel determinante. O percurso teórico -metodológico é
estabelecido de forma multi/inter/transdisciplinar entre a abordagem dialético-relacional da Análise de
Discurso Crítica e a Teoria Social do Letramento, em diálogo com o Modelo Social da Deficiência e
respectivas incursões nos Direitos Humanos e no paradigma da inclusão social. O objetivo geral foi
investigar as práticas de letramento vivenciadas por pessoas com deficiência visual e o modo como
tais práticas afetam as identidades pessoais e as relações sociais dessas pessoas em um contexto
emancipatório de letramento. Os dados etnográfico-discursivos foram gerados por estratégias diversas,
observação participante, notas de campo, grupos focais, diários de participantes e entrevistas
semiestruturadas. As três últimas geraram trinta e nove textos que orientaram as análises linguístico -
discursivas, as quais permitiram compreender os significados dos letramentos construídos em uma
comunidade de aprendizagem-ensinagem no contexto da deficiência visual adquirida (cegueira e baixa
visão) e suas perdas, sobretudo a perda identitária. As singularidades e o protagonismo das vidas com
DV adquirida atravessam, ressignificam e potencializam as ações letradas. Assim, há o encontro com
o alceamento da autonomia, que é movimento, aciona (e é acionada pelos) aportes da mobilidade: a
interação, a comunicabilidade, a leitura e a escrita.