Tesis
"Com os espíritos dos antigos" : a luta do povo Munduruku do médio Tapajós pelo território e pela vida
Fecha
2021-07-20Registro en:
DIAS, Bárbara do Nascimento. "Com os espíritos dos antigos": a luta do povo Munduruku do médio Tapajós pelo território e pela vida. 2021. 138 f., il. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social)—Universidade de Brasília, Brasília, 2021.
Autor
Dias, Bárbara do Nascimento
Institución
Resumen
As narrativas míticas do povo Munduruku da região do Tapajós são
permeadas por transformações metamórficas de humanos em seres não humanos – em
vegetais, em animais ou em espíritos. Toda a história do território e de tudo que o habita tem
raízes nas narrativas míticas do tempo dos “antigos”, quando os antepassados se
metamorfosearam em outros seres e acionaram poderes transformativos sobre o espaço e o
tempo. Esses seres, hoje, ocupam outras formas no mundo, possuem agência também na vida
dos humanos e podem intervir diretamente na vida social das aldeias. As estratégias Munduruku
utilizadas para negociar com esses seres passam por ações ritualizadas que estão também na
vida cotidiana. Essas ações têm, em sua maioria, o objetivo de levar alegria aos espíritos, que
em troca lhes proporcionam a abundância de alimentos provenientes da roça, das caças e dos
peixes. Atos considerados mais corriqueiros, como o de caçar e de comer a caça, podem ser
ritualizados. Essa relação cosmopolítica com esses seres, no entanto, se encontra hoje
ameaçada diante das invasões madeireiras e do garimpo que avançam sobre as terras
indígenas. A busca pela defesa e demarcação do território, nesse sentido, está intrinsicamente
ligada aos lugares sagrados e aos seres não humanos que ajudam a direcionar as estratégias
de luta e resistência política. Assim, a guerra que o povo Munduruku enfrenta é pelos múltiplos
mundos ou planos existentes, pelas múltiplas histórias e cenários que habitam. Esse trabalho
visa compreender os “impactos” em sua forma mais ampla causados pelas diversas “frentes de
invasão” dentro do território Munduruku do médio Tapajós. A partir da convivência prolongada
com o povo, o objetivo é intentar apreender as formas com as quais os indígenas lidam com a
alteridade, seja de humanos ou não humanos, e que acabam sendo prejudicadas pela incidência
de invasores ou de projetos de (des)envolvimento em seus territórios.