Tesis
Reflexões sobre a diáspora libanesa : entre Paracatu/ Brasil e Al Khiam/ Líbano
Fecha
2021-03-01Registro en:
GAMA, Alexandre de Oliveira. Reflexões sobre a diáspora libanesa: entre Paracatu/ Brasil e Al Khiam/ Líbano. 2020. 389 f., il. Tese (Doutorado em Desenvolvimento, Sociedade e Cooperação Internacional)—Universidade de Brasília, Brasília, 2020.
Autor
Gama, Alexandre de Oliveira
Institución
Resumen
Esta tese coloca reflexões sobre a diáspora libanesa a partir de duas cidades de interior, Paracatu-MG, no Brasil, e Al Khiam, no Líbano. Paracatu, distante das regiões de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Juiz de Fora, onde se concentrou ao longo do tempo uma grande comunidade de imigrantes libaneses. Al Khiam, distante do Vale do Bekaa, onde há concentração de libaneses retornados das referidas regiões brasileiras citadas acima ou de seus descendentes nascidos no Brasil. Esta demarcação geográfica é importante, porque neste estudo as reflexões e narrativas são construídas com libaneses muçulmanos xiitas que viveram ou vivem, transitaram ou transitam por esses lugares a partir da década de 1950. Para interpretá-las, foram articulados procedimentos metodológicos e perspectivas teóricas relativas ao campo da história oral, associados à dimensão da memória, documentos judiciais, jornais, diversos documentos imagéticos, livros biográficos, abrangendo revisão e crítica da literatura publicada sobre o tema, além de pesquisa de campo nas duas cidades interioranas, a partir do que foi possível apontar os limites daquilo que chamei de grande narrativa da imigração árabe no Brasil. Esta narrativa é, em muitos aspectos, confrontada neste estudo, uma vez que o interesse de muitos imigrantes árabes que vieram para a região de Minas Gerais não estava só no comércio ou nas atividades comerciais, mas em atividades rurais, por meio da aquisição de fazendas. Além disso, outras diferenças em relação à grande narrativa são descortinadas nesta pesquisa, como os conflitos dos imigrantes com a elite tradicional e racista local, no momento em que eles se estabeleceram na cidade; as tensões intrafamiliares dos imigrantes; as várias estratégias utilizadas por eles para negociarem e afirmarem sua etnicidade em Paracatu, num complexo processo marcado por rejeição, apropriação, ressignificação, ambivalência e tradução cultural; as lojas como arenas mediadoras de conexões transnacionais, lugares de memória e trincheiras etnoculturais, de onde os libaneses resistiam às tentativas da elite local de submetê-los aos seus controles. Ademais, observamos entre esses muçulmanos vindos de Khiam uma experiência mais complexa do que a sugerida pelos estudos marcados por um orientalismo brasileiro que tende a percebê-los como naturalmente mais isolacionistas, propensos a uma endogamia diaspórica e ao fanatismo religioso. Conforme a pesquisa revela, a maior parte dos que se estabeleceram em Paracatu participavam de manifestações culturais locais, festas cívicas, religiosas, carnavais, bailes, jogos, confraternizando-se em bares e contraindo matrimônio fora do seu grupo cultural. Ao mesmo tempo em que incorporavam essas práticas da cultura local, utilizavam-se do imaginário sobre Khiam e dos símbolos da cultura do sul do Líbano para demarcar as fronteiras da etnicidade árabe-libanesa entre os paracatuenses. Portanto, mais do que um processo imigratório, este estudo trata de um complexo fenômeno diaspórico formado a partir das redes interpessoais mantidas pelos imigrantes e retornados. Redes que promoveram a circulação de pessoas, comunicação, trocas materiais e traduções culturais entre elas e essas duas cidades, de forma que o local passa a ser compreendido a partir de suas conexões transnacionais, de suas estéticas diaspóricas, irremediavelmente hibridas, o que também colabora para fazer dessas cidades o que chamei de territórios diaspóricos.