Tesis
“Esperando, esperando” : segregação e subalternidade nas remoções habitacionais na implantação do VLT em Fortaleza
Fecha
2018-02-20Registro en:
COSTA JUNIOR, Pedro Wilson Oliveira da. “Esperando, esperando”: segregação e subalternidade nas remoções habitacionais na implantação do VLT em Fortaleza. 2017. 392 f., il. Tese (Doutorado em Sociologia)—Universidade de Brasília, Brasília, 2017.
Autor
Costa Junior, Pedro Wilson Oliveira da
Institución
Resumen
A realização de megaeventos recentemente no Brasil, com destaque para a Copa do Mundo FIFA de 2014, registrou violações de direitos das populações diretamente atingidas pelas obras, sobretudo pelas remoções forçadas e reassentamentos habitacionais. A atuação do poder público nesse processo descumpriu marcos internacionais de Direitos Humanos. Milhares de pessoas, distribuídas nas 12 cidades-sede da Copa, foram ou permanecem ameaçadas de saírem de suas casas, mesmo após o fim do megaevento. Trata-se de comunidades assentadas em áreas que, no passado, eram pouco valorizadas pelo capital imobiliário, mas, em razão da própria expansão urbana recente, tornaram-se objeto da cobiça do mercado. As alegações oficiais para as remoções vão desde projetos de mobilidade urbana, passando por questões ambientais, chegando até mesmo à preservação das populações retiradas de áreas consideradas de risco. Os direitos à informação, à transparência e à participação dos segmentos atingidos não foram respeitados. No geral, informações acerca da quantidade de famílias reassentadas, indenizações, locais para reassentamento, permaneceram inacessíveis ao longo do processo. O silenciamento e demais violações de direitos dessas populações ilustra bem como se desenrola a produção da subalternidade na sociedade brasileira, através de uma velada, embora notória, classificação e seletividade na distribuição de capitais, nesse caso, no que concerne a direitos básicos de cidadania, resultando numa deterioração da dignidade pessoal de uma ampla camada de indivíduos, “culpados” pelo próprio destino. O objetivo desta investigação foi analisar a ocupação e produção do espaço urbano pelos grupos subalternos através da reconstrução histórica e análise sociológica das experiências de remoções habitacionais ocorridas, observadas a partir do caso do VLT Parangaba – Mucuripe, em Fortaleza, e compreendidas através das percepções de indivíduos que sofreram diretamente as remoções. A hipótese levantada é que as famílias diretamente atingidas pelas remoções figuram como o segmento mais penalizado dentro de um processo mais amplo, em que as desigualdades residenciais nas cidades brasileiras estão ficando mais nítidas; os bairros estão “selecionando” mais, e de modos distintos, seus moradores. Não apenas através da coação, mas também pela simples “liberdade” de mercado. Em resumo, confere-se às obras realizadas para os megaeventos uma espécie de aprimoramento de um padrão que vem orientando os planejamentos urbanos das cidades brasileiras ao longo de décadas.