Tesis
Desvendando o sexting : como as construções de gênero impactam a dinâmica das mensagens sexuais
Fecha
2021-04-09Registro en:
FEITOSA, Lara de Souza. Desvendando o sexting: como as construções de gênero impactam a dinâmica das mensagens sexuais. 2020. 112 f., il. Dissertação (Mestrado em Psicologia Clínica e Cultura)—Universidade de Brasília, Brasília, 2020.
Autor
Feitosa, Lara de Souza
Institución
Resumen
O sexting é uma prática com visibilidade crescente no Brasil, presente em notícias, filmes e até na legislação mais recente. No entanto, ainda existem poucas pesquisas e intervenções sobre como a troca de mensagens sexuais ocorre na realidade brasileira, a partir das peculiaridades culturais do país. Por ser uma prática nova, as percepções sociais sobre o sexting ainda são permeadas por tabus e muitas vezes o confundem com outros fenômenos que podem estar atrelados à prática, dentre eles a violência de gênero. O objetivo desse trabalho foi contribuir para o conhecimento da dinâmica do sexting no Brasil, considerando sua relação com a violência de gênero e como ela ocorre na sociedade brasileira, a fim de favorecer intervenções futuras adequadas à realidade cultural do país. Para isso, foram realizados três estudos: uma revisão de literatura, uma pesquisa empírica com público geral e um estudo de caso múltiplo com adolescentes que já passaram por exposição não consentida de sexting. O primeiro estudo teve objetivo de sistematizar os estudos sobre sexting e violência de gênero publicados em revistas nacionais e internacionais. Foram encontrados 383 artigos e, após aplicados os critérios de exclusão, foram analisados 21 artigos. Os resultados evidenciaram que o sexting não é um fator de risco por si só, mas possui riscos atrelados como violência de gênero, por meio da pornografia de vingança e do slut-shaming. O segundo estudo teve objetivo de investigar a percepção de brasileiros acerca do sexting e obter um panorama de como o fenômeno ocorre na realidade brasileira. Realizou-se um survey online com perguntas discursivas sobre a prática e os dados foram analisados a partir da análise de conteúdo. Os resultados demonstraram que ainda há muitos estereótipos na percepção das pessoas acerca do fenômeno, o que corrobora a literatura internacional. O sexting é parte da vivência sexual de muitas pessoas, mas continua sendo frequentemente confundido com violências que não são inerentes a ele. Ficou evidente a necessidade de educação sexual no contexto digital, que informe sobre direitos sexuais e explore as diferenças entre sexting saudável e violências. O último estudo teve como objetivo compreender as experiências de 11 meninas adolescentes que passaram por exposições não consentidas de sexting. Foi realizado um estudo de caso múltiplo a partir de entrevistas semiestruturadas com duas adolescentes do sexo feminino. Utilizou-se análise temática para o tratamento e a análise dos dados. Os resultados revelaram que a desigualdade de gênero é percebida em diversas etapas das experiências com sexting, desde a forma como a mensagem é solicitada até as características e consequências da exposição. Destaca-se, porém, que há a diferença entre o sexting e a exposição, de modo que a exposição é vista como uma violação da experiência sexual e não como parte do sexting. A partir das percepções das adolescentes e das consequências da exposição que elas vivenciaram, novamente foi evidenciada a necessidade da educação sexual. É fundamental que sejam elaboradas intervenções para prevenir violências e promover relações saudáveis. Para tanto, é preciso questionar as construções sociais de gênero hegemônicas que perpetuam violências.