Urbanização Líquida : uma interpretação da urbanização contemporânea a partir do pensamento de Zygmunt Bauman

Abstract

A reflexão do sociólogo judeu polonês Zygmunt Bauman aborda uma série de aspectos da vida contemporânea. O autor é reconhecido pela amplitude de sua análise da sociedade atual, a partir do conceito de Modernidade Líquida. Esse autor pouco avança, porém, na compreensão de como as características do que ele denomina de condição líquido-moderna têm impactado o modo como o espaço urbano é produzido. A partir dessa constatação, esta tese objetiva desenvolver uma interpretação da urbanização contemporânea enquanto manifestação espacial do que Bauman considera ser a fase líquida da modernidade. Para isso, parte-se do pressuposto de que o ambiente construído, mesmo que possa ser tomado como fator de conformação da sociedade, é sobretudo expressão geográfica de seu contexto econômico, sociocultural, político e tecnológico. Em termos metodológicos, isso quer dizer que a urbanização é considerada aqui um elemento dependente dos demais aspectos da sociedade e, consequentemente, a pesquisa foi estruturada em três momentos: a caracterização da urbanização recente; a construção de uma matriz analítica composta por elementos do pensamento de Bauman potencialmente capazes de elucidar as forças que têm operado na produção do espaço contemporâneo; e, em terceiro lugar, a aplicação dessa matriz. Como resultado, afirma-se a existência de um processo de produção espacial peculiar, denominado aqui de Urbanização Líquida, decorrente da presente condição de generalizada instabilidade existencial, do enfraquecimento da ação política, da transnacionalização do capital, do intenso emprego das novas tecnologias e da conversão do consumo em um meio de afirmação e construção de identidades pessoais. Ainda, a nova realidade espacial manifesta-se de modo mais ou menos intenso conforme o grau de inserção nos fluxos econômicos globais que cada região apresenta, o que permite considerar a presente produção (líquida) do espaço contemporâneo como a faceta geográfica da globalização.