dc.description.abstract | A ficção especulativa (fantasia, ficção científica e horror sobrenatural) é produtiva na abordagem de temas como preconceito, opressão e contato com o outro, mas ainda é um espaço majoritariamente branco no que diz respeito a personagens e autoria. Como pessoas negras ainda são pouco representadas em obras desses gêneros, esses temas acabam sendo lidos apenas como metáforas para a experiência negra no mundo real. Diante desse contexto, o afrofuturismo se destaca por, em termos gerais, nomear a produção artística que surge da união entre ficção especulativa, perspectivas raciais e protagonismo negro, tanto em relação à autoria da obra quanto às personagens nelas representadas. Este trabalho tem como objetivo principal abordar o conceito de afrofuturismo, com foco na literatura brasileira contemporânea. No primeiro capítulo, são pensadas distinções e aproximações para os gêneros não realistas, aqui pensados através do termo ficção especulativa. Também são exploradas algumas questões referentes à representação negra nessas produções dominadas por personagens brancas. No segundo capítulo, o conceito de afrofuturismo é explorado, desde a criação do termo, na década de 1990 nos Estados Unidos, até a expansão e melhor elaboração do conceito por estudiosas e estudiosos preocupados com a relação entre raça, ficção especulativa e tecnologia. No terceiro e último capítulo, são analisados os três romances brasileiros contemporâneos que compõem o corpus desta pesquisa, cada um apresentando os elementos afrofuturistas de uma maneira diferente. Ritos de passagem (2014), de Fábio Kabral, é ambientado em um mundo de fantasia que tem como base mitologias africanas. Brasil 2408 (2016-2017), de Lu Ain-Zaila, que utiliza um apocalipse climático para a construção de um futuro distópico. E Cidade de Deus Z (2015), de Julio Pecly, no qual ocorre uma infestação de zumbis transformados a partir de um lote estragado de crack. De forma individual e coletiva esses romances são importantes para pensar em como o afrofuturismo se manifesta na literatura brasileira. Um movimento artístico que constrói uma noção de futuro que também é ancestral, pois se relaciona com aspectos que vão além das obras e dizem respeito a uma experiência compartilhada que transcende a linearidade do tempo. | |
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