Tesis
A sintaxe do sujeito na história do Português em Goiás : evidências oitocentistas de uma língua de sujeito nulo parcial
Fecha
2019-08-22Registro en:
BORGES, Humberto. A sintaxe do sujeito na história do Português em Goiás: evidências oitocentistas de uma língua de sujeito nulo parcial. 2019. 273 f., il. Tese (Doutorado em Linguística)—Universidade de Brasília, Brasília, 2019.
Autor
Borges, Humberto
Institución
Resumen
Esta tese descreve as primeiras mudanças atestadas nas propriedades de sujeitos nulos no português brasileiro, analisando dados originais de manuscritos dos períodos colonial e imperial escritos em Goiás e fornece evidência empírica da perda de sujeitos nulos na gramática do português brasileiro em dados históricos do século XIX em comparação com dados do século XVIII, precedendo o período para o qual mudanças foram relatadas em relação a outras variedades do português brasileiro (cf. M. E. DUARTE, 1993 [2018], 2000). Trata, portanto, da evidência mais antiga de uma variedade do português brasileiro com propriedades de uma língua de sujeito nulo parcial. A análise do corpus, composto por textos no formato diário, mostra um aumento significativo na realização de sujeitos definidos manifestos de um século para o outro. Além disso, a livre inversão do sujeito, uma propriedade comum às línguas de sujeito nulo, cai de 51,72% no século XVIII para apenas 17,41% no século XIX, ficando restrita a verbos de natureza locativa e existencial. Tomamos isso como evidência para a hipótese de que a perda de sujeitos nulos no português brasileiro em Goiás pode estar crucialmente ligada à perda de inversão livre do sujeito, e não à perda de concordância verbal. Verificamos que um potencial empobrecimento do paradigma verbal parece não ter desempenhado um papel significativo no aumento de sujeitos manifestos: menos de 12% das orações com sujeito manifesto ou nulo no plural não exibiram concordância explícita entre o verbo e o sujeito nos dados do século XIX, e todos os casos de ausência de concordância ocorreram estritamente com verbos inacusativos ou existenciais. De acordo com a distinção tipológica de línguas de sujeito nulo consistentes e línguas de sujeito nulo parcial de Holmberg (2005, 2010a), propomos que um traço de definitude presente no núcleo funcional temporal do português setecentista em Goiás era valorado pelo movimento do verbo para esse núcleo, gerando uma língua de sujeito nulo consistente e a ordenação verbo-sujeito nas orações declarativas dessa língua. Por outro lado, argumentamos que a ausência de um traço de definitude no núcleo funcional temporal do português oitocentista em Goiás foi o responsável pela queda de sujeitos nulos constatada nessa variedade. A partir desses achados, constatamos que o português brasileiro em Goiás emergiu como uma língua de sujeito nulo parcial já na segunda metade do século XIX. Por fim, adotando a proposta teórica de Lightfoot (2017b) para a mudança sintática, que prevê descontinuidades entre as estruturas sintáticas usadas de uma geração para a outra, e os procedimentos analíticos de Thomason (2001) para estabelecer casos de mudança induzida por contato linguístico, sugerimos que a emergência da gramática do PB em Goiás pode ser vista como um resultado da situação de contato entre a língua portuguesa e línguas nigero-congolesas, especialmente o quimbundo, na América portuguesa, embora essa interpretação não seja exaustiva e estudos mais aprofundados tenham de ser desenvolvidos.