Tesis
Por uma fenomenologia do sofrimento psíquico grave : as contribuições da antropologia fenomenológica de Edith Stein
Fecha
2021-04-08Registro en:
MORAES, Mak Alisson Borges de. Por uma fenomenologia do sofrimento psíquico grave: as contribuições da
antropologia fenomenológica de Edith Stein. 2020. 249 f. Tese (Doutorado em Psicologia Clínica e Cultura)—Universidade de Brasília, Brasília, 2020.
Autor
Moraes, Mak Alisson Borges de
Institución
Resumen
O sofrimento psíquico é um fenômeno essencialmente humano e que apresenta um caráter
complexo, multifacetado e plural. A despeito do sofrimento ser algo desagradável e do qual o
homem procura se afastar, ele se impõe de modo inevitável, visto que faz parte da constituição
do humano, o qual se estabelece como um ser-sofrente. Tendo em vista que a clínica designa
o olhar ou o cuidado ao sofrimento, entende-se que essa tem como eixo norteador o sersofrente. Logo, uma clínica psicológica bem fundamentada requer uma rigorosa compreensão
do fenômeno do sofrimento. Entretanto, o sofrer tem sido concebido no âmbito das ciências psi
a partir de uma ótica cientificista-positivista, o que denota uma acepção reducionista a respeito
dessa questão. É diante desse contexto que por meio do construto do “sofrimento psíquico
grave” busca-se compreender a crise psíquica não desde um viés sintomatológico-nosográfico,
mas a partir da experiência vivida do sujeito. Nessa perspectiva, a presente pesquisa tem como
objetivo esboçar uma Fenomenologia do “sofrimento psíquico grave” tendo como base a
antropologia fenomenológica delineada por Edith Stein (1891-1942). Compreende-se que uma
investigação a respeito do sofrimento implica em uma profunda análise de ser humano, ou em
outros termos, requer uma antropologia filosófica. É nesse sentido que se insere as
contribuições de Stein, visto que a filósofa esboçou uma antropologia fenomenológica,
desvelando a estrutura essencial que compõe a pessoa humana. Utilizou-se nessa pesquisa
tanto uma metodologia teórica quanto empírica. Foram analisadas algumas obras da
fenomenológa, assim como de seus comentadores, com o intuito de compreender a questão do
“sofrimento psíquico grave” a partir de uma perspectiva antropológico-fenomenológica.
Ademais, em relação ao aspecto empírico, procurou-se articular as conclusões teóricas com a
análise de um caso atendido pelo pesquisador no GIPSI (Grupo de Intervenção Precoce nas
Primeiras Crises do Tipo Psicótica), grupo voltado para a discussão, pesquisa e intervenção
clínica no âmbito da crise psíquica grave. Nesse sentido, realizou-se primeiramente breves
considerações sobre os principais elementos da Fenomenologia de Husserl, destacando suas
articulações com a Psicologia, mais especificamente a fenomenológica e a antropologia
filosófica. Em seguida, teve-se como objetivo apresentar a descrição antropológicofenomenológica empreendida por Stein, que destacou a constituição do eu-humano a partir de
seus estratos corpóreo, psíquico e espiritual. Ante essas considerações, foi possível concluir
que o sofrimento pode se manifestar tanto no corpo, quanto na psique e no espírito, sendo
possível falar de um sofrer corpóreo, psíquico e espiritual. tal distinção se faz necessária em
decorrência das imprecisões e incompreensões acerca da noção de sofrimento. Na ausência
dessa discriminação antropológica, frequentemente reduz-se o sofrer às suas camadas mais
superficiais, isto é, aos seus aspectos orgânicos e psíquicos. Negligencia-se portanto a sua
faceta especificamente humana, o sofrimento espiritual. Em face disso, depreende-se que o
“sofrimento psíquico grave”, que fundamenta a crise psíquica grave, exibe uma origem
psíquica. Contudo, dado a conexão entre as diferentes dimensões e os distintos tipos de
sofrimento, entende-se que a crise psíquica pode surgir também como fruto da uma
reverberação de um sofrer que teve como fonte outra camada antropológica. Em síntese, a
partir desse alicerce antropológico-fenomenológico, o psicólogo poderá ter condições de
precisar as peculiaridades do sofrimento que se manifesta na crise psíquica grave,
discriminando a sua fonte: corpórea, psíquica ou espiritual. Tal discernimento se faz
fundamental, pois além de possibilitar um entendimento mais rigoroso acerca desse fenômeno,
pode subsidiar a edificação de um modelo interventivo mais adequado, compatível com as
qualidades do vivido em questão, evitando assim posturas reducionistas.