Tesis
Evolução Tectônica de Rift para margem passiva da Faixa Paraguai
Fecha
2021-04-29Registro en:
SILVA, Marcelo Ferreira da. Evolução Tectônica de Rift para margem passiva da Faixa Paraguai. 2018. 194 f., il. Tese (Doutorado em Geologia)—Universidade de Brasília, Brasília, 2018.
Autor
Silva, Marcelo Ferreira da
Institución
Resumen
A Faixa Paraguai (FP) constitui um cinturão dobrado, neoproterozóico, edificado na borda meridional do Cráton Amazônico e o Bloco Rio Apa, na porção ocidental da Província Tocantins, formada durante a ruptura do Rodínia, afetada posteriormente pela Orogenia Brasiliana-Pan-Africana na construção do Oeste Gondwana. A história evolutiva a sul do paleo-continente Amazônico, com a implantação de uma tectònica extensional, e o desenvolvimento da margem passiva da FP é pouco conhecida. Na presente tese, com base em mapeamento geológico básico foram reconhecidas rochas extrusivas como hialoclastitos, escórias e metabasaltos, assim como intrusivas máfica-ultramáficas, além de depósitos de fluxos piroclásticos como ignimbritos, associados às sucessões e intercalações de diamictitos, carbonatos e formações ferríferas, favorecendo uma nova perspectiva para estudar os processos de rifteamento desta bacia neoproterozoica, na porção central do Brasil. Dois estilos de erupções piroclásticas são identificados no limite oriental da Faixa Paraguai. A erupção explosiva Surtseyana básica-ultrabásica, determinada pelos derrames de lava de hialoclastitos e bombas de escórias assimiladas, potencializada pela interação magma-água. O outro pertence ao estilo Pliniano, relacionado às rochas ácidas tufáceas e ignimbríticas provenientes de explosões muito mais violentas em ambientes subaéreos, com as maiores áreas de exposição na região. As idades U-Pb registradas marcam os eventos de rifteamento da Faixa Paraguai. Apresentam simultaneidade ao ciclo de construção de supercontinente e são coincidentes e diacrônicos com os períodos de fragmentação de Rodinia e as colisões de montagem de Gondwana Ocidental. Diagramas de concórdia U-Pb destas rochas relacionadas à Sequência Metavulcanossedimentar Nova Xavantina, situada na porção oriental da FP, mostram a gênese de uma bacia policíclica, exigindo no mínimo duas câmaras magmáticas de composições antagônicas, com a formação inicial de um assoalho oceânico formado por metabasaltos de idade 745 Ma, crono-correlatos com a idade das vulcânicas félsicas de 735 Ma. Relacionadas ainda ao evento extensional, ocorre outro evento de formação de rochas intrusivas gabróicas com idade de 714 Ma. Já no final da amalgamação do Oeste Gondwana, ocorre à última fase magmática, relacionada às rochas alcalinas ultramáficas de 577 Ma, e que pode estar ligada ao Complexo Alcalino Planalto da Serra. As rochas tufáceas na região são contemporâneas ao vulcanismo básico e associadas às formações ferríferas, intercaladas posteriormente com as rochas carbonáticas e os diamictitos superiores, indicando que a deposição destas rochas glacio-marinhas foram também neste período, do Toniano ao Criogeniano inferior, relacionado à Glaciação “Sturtiana”, durante a ruptura do Rodínia. A sobreposição de diamictitos em BIFs e vulcânicas tem ocorrência semelhante ao constatado na Província Franklin, margeando a Laurentia, onde há evidência de efusão generalizada de hialoclastito durante a ruptura do Rodínia, em 716 Ma, antes da glaciação Snowball Earth. As rochas sedimentares da Faixa Paraguai apresentam uma ampla variedade de valores TDM, sugestivo de uma mudança da área fonte durante a evolução da bacia e é o que se espera de processos tectono-magmáticos complexos. As rochas mais antigas se comparam às assinaturas Nd do Cráton Amazônico, dominantemente na Província da Amazônia Central. As idades modelo TDM entre 1.6 e 2.1 Ga são relacionadas à mistura da porção central Amazoniana com outras fontes de regiões jovens das Províncias geocronológicas Amazônicas que possuem idades modelo compatíveis, tais como Ventuari-Tapajós, Rio Negro Juruena,
Rondoniana e Sunsás. Os diamictitos que afloram na Faixa Paraguai oriental são interpretados como depositados em ambiente glacial e interglacial do Criogeniano, provavelmente no período entre a glaciação “Sturtiana” e “Marioana”, após a formação da plataforma carbonática, em ambientes de taludes com a formação de corridas de lama em ambientes turbidíticos, com a incorporação de calcários formados na plataforma rasa e posteriormente depositados em águas mais profundas. As rochas glaciomarinhas da Faixa Paraguai registram os três eventos glacias globais, o Sturtiano em 710 Ma, o Marioano em 635 Ma e o Gaskiers em 580 Ma. Aerogeofísica de alta resolução oferece uma oportunidade única para preencher a carência de trabalhos em dados geofísicos para decifrar a história tectónica de cinturões dobrados relacionados à orogenia Brasiliana, no continente Sul Americano. Pouco é conhecido da estruturação do embasamento da Faixa Paraguai, sotoposta a Bacia do Paraná, Parecis e Bananal. As técnicas aeromagnetométricas permitem delinearmos as principais paleofalhas, com direção EW-NE, denominadas neste trabalho de Lineamento Campinápolis (CAL) e General Carneiro (GCL), responsáveis pela abertura e expansão do rifte, e consequente deposição de sucessões vulcanossedimentares. A fusão do mapa gravimétrico Bouguer com a 1DV permite reconhecer entre o CAL e GCL um conjunto de estruturas definidas pelas faixas estreitas, representadas pelas zonas de cisalhamentos de altas amplitudes e frequências magnéticas, descontínuas, relacionadas à formação das zonas de cisalhamentos Santo Antônio do Leste, Nova Xavantina e Poxoréo (SZSAL, SZNX e SZPX), respectivamente. As altas respostas gravimétricas Bouguer com trend EW e inflexão para NE mostram estreita correlação espacial com as descontinuidades crustais representadas pelos lineamentos magnéticos, discriminando diferentes blocos tectônicos. Além disso, as anomalias gravimétricas estão relacionadas ao registro magmático da fase extensional, que está intimamente associada ao estágio pré e sin-rifte, e, consequentemente ao estiramento da crosta. O método Inversão do Vetor de Magnetização (MVI) produziu resultados coerentes com a deformação e as rochas vulcânicas na área, com aspecto boudinados e estirados, e profundidade média estimada em 3700 m para a massa ígnea alimentadora das atividades vulcânicas. Destaca-se que o Lineamento Transbrasiliano (LTB) atravessa o extremo leste da área, truncando a Faixa Paraguai e influenciando a extensão norte-nordeste para a Faixa Araguaia, e pode ser considerada como um único cinturão dobrado Brasiliano. É representado por um sistema de falhas strike-slip com alguns setores levemente curvilíneos, de direção N20°-30°E, determinado pelas altas amplitudes magnéticas e altas frequências, definindo extensos feixes sigmoidais entrelaçados característicos de zonas de cisalhamento transcorrente. Dentro do sistema LTB foram individualizadas, de oeste para leste, três zonas de cisalhamentos dextrais principais: Cocalinho, Aruanã e Britânia, que formam as zonas de depocentro para as calhas que drenam os principais rios e sedimentos que controlam a Bacia do Bananal. Dados estruturais, geológicos e geofísicos da Faixa Paraguai são consistentes com um modelo de curvatura oroclinal na escala litosférica de uma margem convergente durante as últimas estapas de deformação no final do Criogeniano, decorrente do fechamento do Oceano Clymene. Esta deformação resultou em intenso encurtamento E-W e N-S, a depender da proximidade do anteparo, produzindo um trend linear N-S e E-W, respectivamente. O Oroclínio Paraguai Setentrional é reconhecido pelas mudanças geométricas das estruturas pretéritas formadas na Bacia Paraguai, resultante da tendência de dobras relacionadas aos empurrões que se formaram durante o Orógeno Paraguai, que aproveitaram estruturas pré-existentes do rifteamento inicial. A integração geofísica-geológica sugere que as camadas sedimentares da Faixa Paraguai foram inicialmente depositadas numa bacia de margem passiva com extensões retilíneas e comprimentos superiores a 350 km. Na fase orogênica, a deformação impressa nestas rochas gerou intenso encurtamento crustal, formando dobras apertadas e de charneiras espessadas, sinclianais e anticlinais, até isoclinais, com dobras com flancos na direção nordeste, por vezes rompidos, formando descontinuidades que evoluem para zonas de cisalhamentos. Esse contorno geométrico encurvado da Faixa Paraguai, mostra que o mecanismo de geração de traços estruturais curvos são frutos dos obstáculos, que servem de anteparo a propagação da deformação, devido à movimentação convergente de blocos continentais durante o desenvolvimento da orogenia Brasiliana. Neste caso, os blocos podem ser referidos como o Cráton Amazônico situado a norte, e o Bloco Paranapanema e São Francisco a sul e nordeste, na atual posição geográfica. Outra característica e peculiaridade desta fase do Orógeno Paraguai referem-se à sua vergência e cinemática. A porção ocidental da FP (Área Planalto da Serra) apresenta vergência prioritariamente para NW, e no setor oriental (Área Nova Xavantina) admite vergência preferencialmente para SE. Esse comportamento pode ser explicado por uma
estrutura em flor positiva em um sistema transpressional, reativando as antigas falhas normais do rifte precursor da Bacia do Paraguai. Como resposta ao processo deformacional decorrente da orogênese Brasiliana que formou todo o padrão de dobras fechadas e isoclinais, bem como a verticalização das camadas de metassedimentos dos grupos Cuiabá e Araras na Faixa Paraguai (zona pericratônica e interna), é gerada uma região de subsidência flexural resultante na inversão tectônica da bacia, e a formação de possíveis depocentros que serviram como aporte para a deposição dos sedimentos do Grupo Alto Paraguai (formações Raizama, Sepotuba e Diamantino), em sistema de foreland basin.