dc.description.abstract | Esta tese parte de duas correlações essenciais nos estudos literários. A
primeira, entre a composição textual e sua temática; a segunda, entre o texto
— como resultado final da primeira correlação — e quem o lê. O enfoque deste
trabalho é o elo entre a opacidade de Finnegans wake (1939) e o tema de que
trata essa obra de James Joyce (1882-1941). Busco demonstrar que Wake discorre,
fundamentalmente, sobre o tempo como experiência humana, e parto da
hipótese de que a obra tenha sido concebida para refletir o caráter impenetrável
de seu mote basilar. Abarcar pontos correlacionados, como memória, genealogia
e história, é um modo de buscar aspectos mais tangíveis.
Intento discorrer, também, a respeito das peculiaridades do ato de ler e
de uma espécie de hospitalidade do texto implicada nesse processo. As indagações
desta tese estão voltadas, em vista disso, tanto à referida obra de James
Joyce quanto à leitura de maneira geral, e o fator subjacente a ambos os
tópicos é o tempo. A leitura, aqui tida como demanda imprescindível à literatura,
gera modalidade temporal singular, de caráter ambivalente, constituída por
duas tendências basilares: o presente absoluto inerente à instantaneidade do
ato, que aparenta fluir em linearidade, e a multiplicidade sincrônica de sentidos
gerados pelo texto à medida que é lido. A leitura, desse modo, carrega consigo
o rastro. Quanto a Finnegans wake, argumento que produz efeito de tautocronia
latente, acionando uma multiplicidade de sentidos difusos em sincronia.
A fim de compreender perspectivas preponderantes a respeito do tempo
e de seus aspectos, perpasso pontualmente algumas ideias filosóficas sobre o
tema. Resumo tópicos de Aristóteles, Agostinho de Hipona, Tomás de Aquino,
Martin Heidegger e Walter Benjamin; da ética de Emmanuel Levinas, aponto
brevemente o conceito de anacronismo e, a partir de Vladimir Safatle, em recorte
que dialoga com Jean-Paul Sartre, Sigmund Freud, Gilles Deleuze e Jacques
Derrida, acrescento considerações sobre memória e a inconfiabilidade do
ato de narrar. Por fim, sendo essa uma obra literária de incursão implexa, defendo
leituras colaborativas para ultrapassar algumas das dificuldades. | |
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