Tesis
Incongruências em fala lida : estudo de corpus de pronunciamentos parlamentares
Fecha
2021-11-22Registro en:
LEITE, André Luiz de Faria. Incongruências em fala lida: estudo de corpus de pronunciamentos parlamentares. 2021. 297 f., il. Dissertação (Mestrado em Linguística) — Universidade de Brasília, Brasília, 2021.
Autor
Leite, André Luiz de Faria
Institución
Resumen
Contexto: A literatura linguística não tem produzido muitos dados sobre a fala lida (leitura em
voz alta) em indivíduos adultos e escolarizados. A produção de dados desse tipo pode
caracterizar melhor o desempenho dos falantes nessa tarefa e evidenciar mecanismos de
processamento da linguagem que podem ter caráter universal.
Objetivos: a) identificar incongruências involuntárias entre textos escritos e sua leitura em voz
alta (erros de leitura); b) correlacionar as incongruências identificadas com aspectos
morfossintáticos, semânticos e discursivos dos textos; e c) reconhecer, na análise das
correlações, possíveis mecanismos fundamentais de processamento da linguagem.
Métodos: Identificaram-se os erros de leitura produzidos em um corpus composto por 5 horas
de vídeos de falas lidas, com um tempo médio de fala de 8 minutos por falante, incluindo 39
indivíduos, com idade média de 63 anos, de sexo predominantemente masculino, e nível de
escolaridade majoritariamente superior. Os erros foram correlacionados com variáveis
demográficas e linguísticas, e as correlações submetidas e análises estatísticas.
Resultados: As falas foram segmentadas em 1429 períodos. A maioria dos períodos (854
períodos) continham algum tipo de incongruência. As incongruências mais comuns foram trocas
de palavras, desvios de ortoépia, desvios de concordância, pausas e inserções incongruentes
de fronteiras prosódicas. Houve correlação positiva entre incongruências e: a) sexo masculino
(mulheres cometeram menos erros), e b) extensão dos períodos. Não houve correlação
estatisticamente significativa entre incongruências e: a) idade, e b) taxa de elocução (velocidade
de fala). No caso específico de incongruências de fronteiras prosódicas (segmentação prosódica
dos enunciados), observou-se correlação: a) positiva entre incongruência e continuidade
temática entre períodos (o tópico do período prosodicamente incongruente havia sido
mencionado no período anterior), e b) negativa entre incongruência e sujeito em primeira pessoa.
Observou-se também forte correlação positiva entre incongruências de fronteiras prosódicas e
um determinado critério de segmentação dos períodos que considera que determinadas palavras
poderiam ser omitidas sem comprometer a composição semântica e gramatical mínima dos
enunciados e de seus segmentos. No caso das trocas de palavras, observou-se que: a) 80% das
palavras trocadas são parônimos (palavra falada é semelhante à palavra escrita), e b) as
palavras faladas costumam ser mais frequentes na língua do que as palavras escritas. Com
relação ao fenômeno de retratação (autocorreção do erro de leitura), constatou-se que: a) 26%
das incongruências segmentares são retratadas, mas virtualmente nenhuma incongruência
suprassegmentar (prosódica) foi retratada, e b) as retratações de trocas de palavra e desvios de
ortoépia costumam seguir um padrão em que o substantivo retratado é acompanhado pelo artigo
ou preposição antecedente.
Conclusões: Erros de leitura são bastante comuns entre falantes adultos escolarizados, e
associam-se com certos padrões linguísticos que podem refletir mecanismos cognitivos
fundamentais de processamento da linguagem. A esse respeito, elaboram-se algumas hipóteses
explicativas e apresentam-se certas conjecturas, dando-se especial ênfase ao conceito de
memória de trabalho. Sugerem-se, também, estratégias de produção textual que poderiam
facilitar a leitura em voz alta.