Tesis
Uma nação no cinema : o apocalipse segundo Gláuber
Fecha
2020-04-27Registro en:
SILVA, José Benjamim Picado S. Uma nação no cinema: o apocalipse, segundo Glauber. 1991. 170 f. Dissertação (Mestrado em Comunicação)-Universidade de Brasília, Brasília, 1991.
Autor
Silva, Jose Benjamin Picado S. e
Institución
Resumen
O tema da dissertação é o das relações entre a obra do cineasta baiano Glauber Rocha (1939/1981) e a questão da nacionalidade e da cultura brasileiras, evocadas aqui enquanto motivação central dos discursos intelectuais - e da própria formação do papel destes no processo político no país. Glauber inscreve-se a essa tradição - que remontaria, mais fortemente , ao período da formação da República, na passagem do último século, e perduraria até nossos dias, como um traço permanente ou lugar de fala - como um discurso deslocado em certos de seus aspectos,em relação a essa formação geral. A complexidade desse Autor define-se na exata medida em que sua ambivalência caracteriza seu estranhamento às tradições como fruto de seu pertencimento às mesmas.
A nacionalidade emerge, para Glauber Rocha, enquanto objeto de um discurso crítico sobre as tradições intelectuais, enquanto modelos de uma crítica da Razão, de uma filosofia da História e de uma filosofia da Natureza, contrapostas a outros modelos de pensamentos que, em graus variados, presidiram a noção de identidade em que a questão da nacionalidade estaria inscrita.
Em seus filmes, a Razão se encontra encarnada em um modelo de representação - o realismo - que funda uma idéia de nacionalidade enquanto realidade referida - e constituída - apenas em discurso; Glauber opõe-se ao realismo, propondo a realidade enquanto plena heterogeneidade e descontinuidade (matéria de seu discurso no estilo das imagens de "A Idade da Terra" e da estrutura narrativa de "Terra em Transe").
A História, postulada pelo pensamento idêntico como instância espaço-temporal em que a nacionalidade se realiza na condição de uma construção intelectual, chega à obra do Autor como uma imagem especular de seu modo dramático, retilíneo e continuo, assumindo a forma dos ciclos trágicos e repetitivos de "Deus e o Diabo na Terra do Sol" e desembocando, em "O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro" numa imagem utópica dessa História, plenamente realizada no carnaval, enquanto matéria imagética, icónica, da nacionalidade, representada numa modalidade histórica de plenas durações; já em "Barravento", essa modalidade de eventos encontra na natureza uma instância fatal de realização da identidade entre pensamento e realidade, mediadas pelo mito e pela religiosidade.
A ambivalência da relação de Glauber Rocha com as tradições intelectuais no Brasil definiria uma verdadeira qualidade de sua postura enquanto Autor, muito mais do que uma incoerência de seu discurso: como tal ambigüidade, o termo da nacionalidade só pode-se definir nessa mesma provisoriedade , como incompletude - trata-se de uma vontade de potência, inscrita como permanência numa duração histórica (espaço este em que ela define-se como ideologia do discurso intelectual, auto-atribuído como 'missão política') - e que, na obra de Glauber define-se especularmente ao mesmo histórico, como uma plena disponibilidade, como traço virtual.