Tesis
Evolução tectônica e metalogenética no contexto do depósito aurífero de Fazenda Nova, Arco Magmático de Arenópolis, Goiás
Registro en:
MARQUES, Gustavo Campos. Evolução tectônica e metalogenética no contexto do depósito aurífero de Fazenda Nova, Arco Magmático de Arenópolis, Goiás. 2017. xii, 169 f., il. Tese (Doutorado em Geologia)—Universidade de Brasília, Brasília, 2017.
Autor
Marques, Gustavo Campos
Institución
Resumen
O Arco Magmático de Goiás é hoje um terreno estratégico para exploração de ouro pela Yamana Gold, razão pela qual boa parte dos orçamentos de exploração vem sendo aplicados neste local, visando o avanço do conhecimento cientifico e a descoberta de novos depósitos. Uma descoberta recente foi o depósito aurífero de Fazenda Nova, localizado na Faixa Jaupaci (180 km a oeste de Goiânia), uma das sequências vulcânicas do Arco Magmático de Arenópolis (porção sul do Arco Magmático de Goiás). Motivado pela referida descoberta, esta tese objetivou entender o contexto geológico da Faixa Jaupaci, assim como a gênese da mineralização aurífera de Fazenda Nova. Para atingir esse objetivo foram realizados mapeamentos geológicos, descrição de testemunhos de sondagem, interpretação de seção de sondagem, descrições petrográficas, análise química de rocha total, química de minério, química mineral, imageamento em microscópio eletrônico de varredura (MEV), análise isotópica Sm-Nd, análise isotópica C-O, imageamento de zircões por catodo luminescência (CL) e datação U-Pb por LA-ICP-MS. Foram definidos dois eventos de magmatismo na Faixa Jaupaci: o primeiro, ocorrido em ambiente de arco magmático, se deu entre 770-750 Ma; e o segundo, gerado em um ambiente pós-colisional que ocorreu entre 597-506 Ma. O magmatismo em ambiente de arco pode ser subdividido em dois principais pulsos: um mais antigo denominado Suíte Tipo 1, que compreende tonalitos e granodioritos com ilmenita, afinidade peraluminosa e calci-alcalina cristalizados em ~770 Ma; e um mais recente, que engloba magmas félsicos com magnetita, afinidade adakítica e metaluminosa representando pelos granitoides da Suíte Tipo 2 com idade de 753 ± 12 Ma , assim como os metariolitos basais da Sequência Jaupaci datados com idade de 748 ± 10 Ma. Os dados isótopos de Sm-Nd da Suíte Tipo 1 mostraram idades modelos TDM de 0,86 até 0,91 Ga e εNd (T) positivo com valores variando de +4,6 até + 5,4. Tais rochas foram interpretadas como sendo provenientes da fusão da crosta juvenil em estágios finais de colisão em um ambiente intra-oceânico. A Suíte Tipo 2 e os metariolitos s apresentam idades modelo TDM um pouco mais antiga, variando de 1,1 até 1,21 Ga e o εNd (T) positivo com valores variando de +1,1 até + 2,08, sendo a origem interpretada como proveniente de baixa fusão parcial de uma crosta juvenil muito espessa em um ambiente de arco continental. O magmatismo pós-colisional foi divido em três eventos relacionados temporalmente à geração da Zona de Cisalhamento Moiporá Novo-Brasil: o pré-cinemático (~597-587 Ma), o sin-cinemático (~577-539 Ma) e o pós-cinématico (~511-506 Ma). O evento pré-cinemático ocorre em um ambiente extensional com ascensão mantélica e posterior delaminação da crosta inferior. Associado a este evento ocorrem vulcanismo bimodal, granitos tipo-A assim como um conjunto de diques denominados de Intrusivas Bacilândia (composto por diques de gabros doleritos, traquitos, dioritos pórfiro e sienitos pórfiro). As rochas do evento pré-cinemático apresentam idade modelos TDM variando entre 0,75 Ga e 0,9 e εNd(T) variando de +2,3 to +6,6. O evento sin-cinématico ocorre em um regime compressional no qual é registrada uma fase deformacional Dn com desenvolvimento de metamorfismo em fácies xisto verde e o desenvolvimento de grandes estruturas strike-slip. Dentre essas, a mais importantes é a Zona de Cisalhamento Moiporá-Novo Brasil, interpretada como uma estrutura litosférica profunda que permitiu a interação do manto com a base da litosfera, gerando um novo pulso de granitos tipo-A e um grande volume de diques alcalinos de Intrusivas Bacilândia. Os granitos tipo-A do evento sin-cinématicos apresentam a mesma assinatura geoquímica que o evento pré-cinemático, entretanto com idades modelos mais antigas com TDM 1,27 – 2,25 Ga e εNd (T) negativo com valores variando -1.0 até -20.0. De outra forma, as Intrusivas Bacilândia deste evento apresentam idade modelo TDM entre 0.75 – 0.88 Ga e εNd (T) positivo com valores variando entre +3,51 e +4,5. O evento pós-cinemático ocorre em um ambiente extensional com a geração de granitos tipo-A e lamprófiros sem deformação com idades modelos variando entre 0.9 até 1.2 Ga e εNd (T) com valores negativos a positivos (-4,0 até +1,88).
A lavra da mineralização aurífera de Fazenda Nova teve seu inicio em 2004, entretanto os recursos oxidados foram exauridos e a lavra interrompida no final de 2006. No inicio de 2010 foi reconhecido o potencial sulfetado nesse deposito e definido um recurso inferido de 650 koz com 4,0 g/t Au (cut-off de 2,0 g/t Au). A mineralização de Fazenda Nova está hospedada em diques das Intrusivas Bacilândia (principalmente em doleritos e diorito pórfiros) apresentando três estágios de alteração hidrotermal: i) o estágio inicial, ou mineralizante, consiste de uma alteração pervasiva biotítica e sericitização dos feldspatos acompanhada por stock-work de quartzo e brechas silificadas. A alteração pervasiva ocorre associada com uma disseminação de sulfeto composta por arsenopirita-pirrotita-scheelita-stibinita, além de siderita e apatita hidrotermal. A arsenopirita desse estágio apresenta formato acicular e apresenta ouro invisível além de inclusões de grãos de galena, pirita e ouro, que origina o caráter refratário do minério. A temperatura estimada para cristalização de arsenopirita, pirrotita junto ao ouro foi de 340°C; ii) O estágio intermediário é composto stock-work de calcita e quartzo com uma assembleia hidrotermal de clorita, epidoto, turmalina e titanita associado a sulfetos como pirrotita-pirita-arsenopirita. A arsenopirita neste estágio é tabular não apresenta inclusões de sulfetos e nem de ouro. A temperatura estimada para o par de sulfetos arsenopirita-pirita foi de 305°C; iii) O último estágio é composto por veios e brechas composto apenas por calcita-ankerita sem alteração hidrotermal ou mineralização aurífera. Tantos os diques como a mineralização apresentam uma forte relação espacial com a Falha Bacilândia, uma estrutura NNW de segunda ordem da Zona de Cisalhamento Moiporá-Novo Brasil. A Falha Bacilândia deve ter atuado como uma estrutura profunda que canalizou os magmas das Intrusivas Bacilândia assim como os fluidos hidrotermais. A maior atividade desta falha ocorreu em aproximadamente 574-572 Ma e está associado à geração de maior volume de diques, tal como os estágios hidrotermais no depósito de Fazenda Nova. Processos magmáticos atuaram de forma crucial na fertilidade do Au e concentração de fluidos
hidrotermais: O depósito de Fazenda Nova foi classificado como Reduced Intrusion Related epizonal baseado nos seguintes aspectos: i) mineralização hospedada em magma reduzido pós-colisional;ii) processos magmáticos atuando na concentração de Au e outros metais; iii) textura epizonal de veios como stock-work/brechas associadas a sulfetos com temperaturas de cristalização entre 340-305 °C, indicando um alto gradiente hidrotermal; iv) associação metálica de Au-As-W-Sb; v) Isótopos de C-O em veios de calcita com valores equivalentes a carbonatos magmáticos ou hidrotermais mantélicos.