dc.description.abstract | Os morcegos são reconhecidos como hospedeiros de uma grande variedade de vírus. No entanto, a relação entre a presença dos vírus e o hábito de vida dos morcegos quase não é explorada. O presente trabalho teve como objetivo entender um pouco melhor esta relação. Para tanto foi realizado um levantamento bibliográfico, apresentado no primeiro capítulo, sobre em quais morcegos já foram identificados vírus e quais são esses vírus, em um panorama global. Foi possível constatar que existe um maior número de estudos nos continentes do Velho Mundo e que a maioria dos trabalhos sobre vírus em morcegos nas Américas e no Brasil é sobre o vírus da raiva. Vírus pertencentes a 16 famílias já haviam sido identificados em morcegos no continente americano, sendo que destas famílias, apenas oito haviam sido identificadas no Brasil. Foi possível constatar que a família de morcegos Phyllostomidae é a que possui mais dados sobre vírus tanto no Brasil como nas Américas, seguida da família Molossidae, no Brasil. Sabendo que a ordem Chiroptera possui uma das dietas mais diversificadas entre todos os mamíferos, elaborei um estudo no capítulo 2 a fim de verificar a hipótese de que o hábito alimentar de quatro espécies de morcegos exerce influencia sobre a sua diversidade viral, bem como a hipótese de que quanto mais especializada a dieta dos morcegos, menor será a diversidade de vírus presentes em seus intestinos. Para tanto foram capturados 15 indivíduos de cada uma das seguintes espécies: Artibeus lituratus (Phyllostomidae) - frugívoro, Glossophaga soricina (Phyllostomidae) - nectarívoro, Desmodus rotundus (Phyllostomidae) – hematófago e, Nyctinomops laticaudatus (Molossidae) – insetívoro, em pontos aleatórios do Distrito Federal, no domínio Cerrado do Planalto Central, nos anos de 2014 e 2015. Os animais foram eutanasiados e tiveram seus intestinos armazenados a -80 ˚C para posterior análise. As amostras passaram por um processo de enriquecimento viral e os ácidos nucleicos foram extraídos utilizando-se o Kit de extração Zymo ZR Virus DNA/RNA. O DNA foi a seguir amplificado com polimerase phi29 e sequenciado usando o Kit de preparação Nextera DNA Library na plataforma Illumina MiSeq. As sequencias obtidas (reads) foram processadas e montadas usando CLC Genomics Workbench v.6.0.3. Os contigs resultantes foram comparados com o banco de dados Viral RefSeq, utilizando o programa BLASTX. A hipótese de que a diversidade viral varia de acordo com o hábito alimentar dos morcegos foi confirmad, porém a hipótese de que quanto mais especializada a dieta, dos morcegos, menor a diversidade viral encontrada no intestino, foi refutada. A espécie N. laticaudatus apresentou a maior diversidade viral, provavelmente porque os vírus encontrados no intestino dos espécimes, derivam da maior diversidade de insetos predados. As espécies G. soricina e A. lituratus apresentaram a mesma diversidade, o que pode ser explicado pelo fato de as duas espécies eventualmente utilizarem como alimentos plantas e esporadicamente insetos. D. rotundus foi a espécie com a menor diversidade viral, devido a dieta ser bastante restrita, apenas sangue. Porém, nesta espécie foi encontrado o vírus da Anemia Infecciosa das Galinhas – CAV, aqui encontrado pela primeira vez em D. rotundus, indicando que a espécie está predando além de mamíferos, aves. No todo 54 novos vírus foram detectados nas quatro espécies de morcegos, reforçando que pouco se conhece sobre os vírus presentes em morcegos. | |
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