Tesis
Sintagmas locativos no português de Moçambique e do Brasil : o papel do contato de línguas
Fecha
2017-01-09Registro en:
RABÊLO, Sarah Freitas. Sintagmas locativos no português de Moçambique e
do Brasil: o papel do contato de línguas. 2016. 96 f., il. Dissertação (Mestrado em Linguística)—Universidade de Brasília, Brasília, 2016.
Autor
Rabêlo, Sarah Freitas
Institución
Resumen
O presente estudo investiga a realização dos sintagmas locativos no português de Moçambique (PM), focalizando o comportamento das preposições que os constituem, em uma perspectiva comparativa com o português brasileiro (PB) e o português europeu (PE) — língua-alvo no processo de formação das variedades brasileira e moçambicana. Na análise dos dados do PM, extraídos do corpus elaborado por Gonçalves (1990), observou-se que, nessa língua, os sintagmas locativos preposicionados podem: (i) exercer função oblíqua, quando inseridos na estrutura argumental de verbos de movimento direcional (nem todos íamos na mesma escola / só voltei para aqui o ano passado) ou de verbos estativos (veio morar em casa dos meus pais / fui viver para o campo); (ii) ocupar posição de tópico (na beira saímos dia cinco); (iii) ocupar posição pré-verbal em predicados transitivos e (ou) existenciais (nas escolas não dão certificados de habilitação / em cada escola tinha capacidade para albergar seiscentos alunos / Na minha casa nunca teve dificuldade); (iv) ocupar posição pré-verbal em predicados copulativos com verbo “estar” (nesses museus está muito relacionados com a guerra de libertação / neste lugar está fora do coiso, está fora da cidade. Considerando a escolha da preposição, no contraste com a língua alvo, verifica-se que em (i), (ii) e (iii), o PM utiliza indistintamente a preposição ‘em’ introdutora do locativo, enquanto o PE utiliza sistematicamente as preposições ‘a’ e ‘para’, com verbos de movimento, e a preposição ‘em’ com predicados estativos. Nesse aspecto, o PM identifica-se com o PB, embora o uso da preposição ‘em’ seja ainda mais difundido no PM do que no PB. Assumindo o quadro teórico da gramática gerativa (Chomsky 1995), verifica-se que as três variedades (moçambicana, brasileira e europeia) licenciam as construções (i) e (ii), com o argumento locativo como oblíquo e na posição de tópico, respectivamente, de um predicado inacusativo biargumental, e somente o PM autoriza as construções em (iv). Em relação a (iii) e (iv), este estudo investiga a hipótese de que o PP é realizado na posição de sujeito como uma construção do tipo inversão locativa ou em uma posição pré-verbal acima de TP e abaixo de CP, distinguindo-se os casos em que o predicado é transitivo, sendo o argumento externo ligado por um operador genérico ou realizado em posição pós-verbal, e existencial, em que o argumento externo está ausente. Propõe-se que, no contexto de contato linguístico que envolveu a aquisição do português como segunda língua (L2) em Moçambique e no Brasil, a opacidade dos traços provenientes do input do PE motivou a emergência de construções inovadoras, tanto por interferência da L1 (línguas Bantu em ambos os casos), como por acesso (parcial) à GU. Seguindo a hipótese de Gonçalves & Chimbutane (2004), consideramos que o uso generalizado da preposição ‘em’ como introdutora de sintagmas locativos no PM seja decorrente do fato de que essa preposição tenha ganhado estatuto estritamente funcional nessa língua, o que implica que o Nome locativo seja introduzido por essa preposição, independentemente do tipo de predicado verbal em que ocorra, um padrão característico da marcação de locativos nas línguas Bantu. Com base em Tortora (2006, 2008), assume-se que o sintagma locativo preposicionado (PP locativo) possui uma projeção em camadas (PP shell), que inclui uma projeção funcional de aspecto. A variação verificada entre o PM, o PB e o PE decorre do tipo preposição realizada no sintagma aspectual (AspP) interno à projeção do PP locativo.