dc.description.abstract | O objetivo da pesquisa foi articular o cuidado e a inclusão social através da ideia de convivência, caracterizando-a como dispositivo de cuidado no contexto da atenção psicossocial em saúde mental. A hipótese que guia este trabalho é a potencialidade da convivência, se orientada por determinadas caraterísticas e posturas, de converter-se em um dispositivo de cuidado com um papel estratégico no campo brasileiro da saúde
mental. Buscou-se destrinchar este dispositivo de cuidado, do ponto de vista da trama teórica, em três dimensões: ética, política e clínica. As dimensões da convivência são caracterizadas, com a ajuda de diferentes autores, de diferentes campos do conhecimentos e a partir de diferentes experiências no campo da saúde mental. Através de um recorte filosófico, o cuidado é caracterizado em sua indissociável dimensão ética que se desdobra quando o tema é convivência. Esta é analisada, a partir de um recorte sociológico, como um dispositivo de cuidado em seu papel político, isto é, desinstitucionalizador e promotor de cidadania. Em seguida, a convivência é problematizada enquanto um dispositivo de cuidado no campo da atenção psicossocial em sua dimensão clínica. Este estudo foi realizado através de uma pesquisa qualitativa, em particular, uma pesquisa-intervenção, com o objetivo de
caracterizar a convivência como dispositivo de cuidado no campo da saúde mental. A convivência, enquanto uma dimensão fenomenológica, foi estudada em um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS). A intervenção tem a convivência, ao mesmo tempo, como objeto e estratégia, e foi na convivência pesquisadores-usuários-equipe que as decisões sobre as atividades que compõem a intervenção foram realizadas. As
informações qualitativas geradas através de diários de campo, gravações das reuniões com a equipe do CAPS e registros em ata da participação na assembleia do CAPS e das reuniões da equipe de pesquisa, foram analisadas segundo a hermenêutica de
profundidade. A análise das intervenções (a atividade de convivência e o grupo de
convivência) foi construída em diálogo com as dimensões ética, política e clínica e
com as disponibilidades implicadas no cuidado. A convivência se guiada pelas
constelações de princípios e características sustentadas pelas dimensões ética e política (afinal não é qualquer encontro humano que é terapêutico) se configura na possibilidade de construir um cuidado privilegiado em saúde mental através das disponibilidades afetivas de estar com, fazer junto e deixar ser. A convivência exige uma disponibilidade ética para estar com outro, sustentada em uma posição política de reconhecer o outro em sua diversidade e alteridade, o que é incompatível com uma
formação autoritária e prescritiva. A partir da convivência foi experienciado um
combate à formalização, permitindo uma flexibilização e circularidade de papéis entre cuidadores e usuários, culminando na construção de redes solidárias e de relações mútuas de cuidado, marcadas pela afetividade, alegria e espontaneidade, o que resultou na possibilidade de acolher o sofrimento, este marcado também pelos
confrontos, desencontros e ambivalências que constituem o humano. Foram
apresentadas algumas sugestões para (des)organizar os CAPS a partir da convivência, visando à desburocratização dos serviços e à construção de uma forma de cuidar sob medida e coletiva. | |
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