Tesis
As contribuições da filosofia da diferença na era dos alunos com supostos transtornos de aprendizagem
Fecha
2016-02-01Registro en:
NASCIMENTO, Ana Bárbara da Silva. As contribuições da filosofia da diferença na era dos alunos com supostos transtornos de aprendizagem. 2015. 116 f., il. Dissertação (Mestrado em Educação)—Universidade de Brasília, Brasília, 2015.
Autor
Nascimento, Ana Bárbara da Silva
Institución
Resumen
A homogeneidade tem sido o ponto de partida geral na Educação quando se trata de entender as diferenças apresentadas pelos estudantes no meio escolar. De fato, a Educação é apenas um exemplo de uma atitude muito mais geral relacionada à noção de homogeneidade e aos conceitos que lhe acompanham de perto, como aquele de normalidade. Procuraremos mostrar que essa tendência a se olhar a diferença a partir da homogeneidade tem sido um empecilho ao problema da inclusão escolar. Este trabalho pretende abordar a questão da Educação tomando por ponto de partida a noção de SINGULARIDADE, entendida como o caso extremo da diferença e irredutível à semelhança, diferindo, assim, da perspectiva usual. Para atingir nossos objetivos, apresentamos, no primeiro capítulo, uma arqueologia conceitual da noção de “dificuldade de aprendizagem e desenvolvimento” para mostrar, primeiramente, como tal noção está profundamente influenciada pelo contexto histórico e social em que se apresenta. Mostramos, de fato, que essa noção sofreu constantes deslizamentos hermenêuticos ao longo da história. Para tanto, apresentamos três abordagens filosóficas distintas, características de épocas diferentes, que conceituam “dificuldade de aprendizagem e desenvolvimento” de formas bem diferentes. Discutimos, então, as origens estruturais e as consequências do paradigma hegemônico da era contemporânea. Baseado na noção de ritmo e eficiência, mostramos, no segundo capítulo, que esse paradigma se mantém conceitual e logicamente sustentado pela ideologia da medicalização. Analisamos, ainda, os pressupostos da própria medicalização, argumentando que muito da sua pretensa objetividade pode estar assentada, de fato, no desenvolvimento da chamada profecia autorrealizadora. Nesse contexto, consideramos especificamente o instrumento da prova diferenciada. Após essa abordagem crítica, passamos a mostrar que o elemento que perpassa todas as noções de normalidade, distúrbio psiquiátrico e dificuldade de aprendizagem, independentemente do momento histórico em que ocorram, é a assumida precedência de uma mesmidade ontológica relativa ao humano, levando à qualificação da diferença quase sempre em termos negativos. Apresentamos, no capítulo três, nossos próprios argumentos em favor de uma ontologia da singularidade (para além da mera diferença). Nesse contexto, emprestamos a noção de MAL-ESTAR, da chamada Filosofia Clínica, como uma contraposição àquelas de doença, síndrome ou transtorno, o que nos permite propor mecanismos para se superar a ideologia medicalizante já criticada. Como forma de caracterizar adequadamente a noção de MAL-ESTAR, apresentamos, no capítulo quatro, uma pesquisa qualitativa com três sujeitos experimentais que apresentam diagnósticos de transtorno de aprendizagem. Com isso, torna-se possível traçar uma zona cinzenta separando eventuais doenças, síndromes ou transtornos daquilo que efetivamente impede o desenvolvimento escolar, que caracterizamos como sendo o MAL-ESTAR. Nesse sentido, a pesquisa qualitativa foi feita de modo a dar voz a esses sujeitos experimentais, para que suas percepções sobre si possam ser apreendidas sem a lente medicalizante. Os resultados da pesquisa qualitativa sugerem os efeitos já mencionados e criticados em capítulos anteriores, vinculados à ideologia da medicalização. Mostram, ainda, que, para além da existência ou não de um substrato que indique doença, os sujeitos experimentais se fazem perpassar por uma enorme carga de MAL-ESTAR, principalmente relacionado com suas autoimagens. Concluímos, portanto, que a adoção de uma perspectiva que assume a diferença como ontologicamente precedente relativamente ao conceito de uniformidade não é suficiente para instaurar um ponto de partida para a questão da inclusão escolar, uma vez que a diferença, constituída sobre os pilares de abordagens estatísticas, mantém implícito o referencial da homogeneidade. Como forma de elucidar todas essas questões, apresentamos um exemplo que permite compreender o diferencial de nossa abordagem de situações educacionais importantes daquela usual, e como tais situações educacionais importantes podem se beneficiar de tal ontologia da singularidade.